O último dos axezistas
João Henrique Carneiro, o Burgomestre Nevropata, está tão anacrônico que ontem, no aniversário da cidade, botou pra tocar a banda de sub-axé Jammil no Farol da Barra. É um total desentendimento do processo de abertura e retomada cultural que hoje Salvador vive – e que se deve em parte a ele próprio, ou tem em sua eleição (então anti-carlista) em 2004 o seu “marco zero”.
Jammil é sub-axé para mineiro ver. Não vai aqui nenhum perrengue com os membros da banda (técnicamente bons, e que originalmente faziam rock – como aliás foram o Asa de Águia e o Chicretão), ou com os habitantes nativos das Gerais. Digo isso até por este mesmo motivo: fazem um axé burocrático, sem gosto – não-ideológico, digamos assim. O “para mineiro ver” é porque eu divido o axé-music (lembrando que Daniela Mercury e Margareth Menezes não fazem axé, mas samba-reggae) entre os “pra paulista (ou goiano) ver” (mega-stars caríssimos) e “para mineiro ver” (de segundo time, e com menos pompa).
Ora, estamos em franco pós-axezismo. Mas vá lá, já disse: nada contra o axé-music enquanto ritmo, se for de qualidade, ligado a suas raízes entre a xibietagem do samba-duro, o frevo-elétrico e os afoxés. A questão é contra a dominação monocultural mediocrizante. Vejam que hoje até o “grande axé” está participando de alguma forma da re-diversificação e re-qualificação da cultura baiana. A Orkestra Rumpillezz vem da cozinha de Ivete Sangalo, e é produzida pelo irmão da própria – e é great-jazz de primeirérrima qualidade.
Por que então optar por essa coisa meia-boca? Será que a Secretaria Municipal de Cultura não… Ah!, esqueci: João Henrique não tem Secretaria de Cultura. Diz que não precisa – não obstante governa o maior e mais antigo patrimônio material e imaterial das américas.
Em seu lugar, a Empresa de Turismo de Salvador (Saltur) organizou o evento. Novamente, se era “de turismo”, por que não teve divulgação nacional prévia? A Prefeitura está podendo assim deixar de arrecadar e de gerar emprego e renda no setor privado?! Se era “de turismo”, por que não foi um evento maior, mais diversificado, ocupando outras regiões da cidade com mais diversidade, ao longo do dia?!
João Henrique tem uma espécie de síndrome de grauçá: anda pra-traz. É o último dos medíocres, o derradeiro dos axezistas sub-ideológicos – além de, claro, o único neo-carlista do mundo (quando todo mundo, até mesmo Grampinho, vulgo ACM O Neto, quer se livrar da pecha de ACM – que aliás João ajudou a derrubar). É a vanguarda do retrocesso. O porta-estandarte do regresso.
Vamos ver até quando o distúrbio orgânico mal-diagnósticado que ele tem suporta tanta contradição. Minha aposta é que ele renuncia antes da entrada do terceiro ano do segundo mandato. Alguém mais vai à banca?
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