Ao invés de gente, prédio – II
Do blog Bahia de Fato:
A elite baiana chega a ser cruel na sua insensibilidade. Empresários, professores, funcionários públicos, políticos e até jornalistas podem morar na beira da praia em terrenos de Marinha, impedindo a visão e o acesso ao mar. A Bahia é toda assim. De Salvador, passando pelas sofisticadas mansões de Itacimirim, chegando aos limites de Sergipe. Agora, mil moradores da Vila Brandão, em 200 casas edificadas há 60 anos nas encostas da Ladeira da Barra, não podem: atrapalhariam a visão do mar (o que é falso). Com indignação leio nos jornais a desapropriação das habitações da Vila Brandão pelo prefeito João Henrique (PMDB).
Li na coluna do respeitável jornalista Samuel Celestino que ele apóia esse absurdo, uma verdadeira ameaça da parte do prefeito João Henrique (PMDB). Guardo a esperança de que Samuel Celestino, pelo peso que ele tem, reveja sua posição. Obviamente, é possível beneficiar urbanisticamente a encosta da Vila Brandão, transformar o bairro num aprazível lugar, sem agressão à estética da Bahia, mas garantindo a existência do pequeno núcleo. Quando a especulação imobiliária virou os olhos para a Gamboa de Baixo, secular vila de pescadores situada na parte baixa da avenida do Contorno, foi a mesma coisa. A Gamboa ganhou a briga contra os interesses dos construtores, as casas foram beneficiadas, melhoradas e são lindas.
É. Na Bahia, rico pode morar na beira da praia, pobre nem na encosta.
Comentário:
A Vila Brandão fica numa ladeira íngrime entre o Edifício Mansão Monsenhor Marques (que tem aquele belo painel em pedras portuguesas de Juarez Paraíso) e o antigo Palecete Wildberger (ecletista de primeira ordem, hoje em ruinas porque João Henrique nada fez para impedir sua demolição para construir um prédio de 30 andares – todos os outros do Largo da Vitória têm no máximo 12 – a não ser quando já era tarde demais). Nenhuma casa na Vila tem mais de 2 ou 3 pavimentos. E do fundo do Largo da Vitória, olhando da calçada por sobre a Vila, é possível ver o Iate Clube da Bahia todinho.
Ou seja: não tapa vista.
É o mesmo João Henrique que queria acabar com o estacionamento do Iate Clube em frente a Mansão Clemente Mariane (a maior área verde do centro expandido de Salvador – que ao meu ver deveria ser já tombada), e fazer ali um prédio de 20 andares – este sim tapando a vista e destruindo um belvedere público (que é o que o estacionamento do Iate realmente é).
É aquela velha história: ao invés de gente, prédio. Tá lá, no logo da Prefeitura, pra quem quiser ver. O Menino Maluquinho não esconde nada de ninguém. E despreza não só povo – mas gente de qualquer classe sócio-econômica! Porque ninguém vai me dizer que os habitantes da Ladeira da Barra são menos do que classe-média-altíssima…