A Santa Madre, que, apesar de mulher, nunca morreu numa fogueira e não sabe o que é ser carvão
Em tempos em que o Vaticano acha que a máquina de lavar roupas foi a coisa mais libertária que jamais ocorreu às mulheres, e em que o Arcebispo de Olinda acha que uma menina de 9 anos deve parir gêmeos do próprio padrasto, deixo que a poetisa Rita Lee (porque não é mera roqueira ou letrista) responda:
Só quem já morreu numa fogueira
sabe o que é ser carvão!
Nunca é demais lembrar que a Santa Madre Igreja comandou o maior e mais longo feminicídio sistemático da história ocidental.
(P.S.: Rita Lee não só é poeta, como é a poeta paulistana por excelência, de um modo que nem Mário de Andrade nem Oswald foram. Ela, como diz Caetano, é a mais completa tradução desta que é – me perdoe Niemeyer, e Paulo Mendes da Rocha concorda comigo – a mais radical experiência urbana que a humanidade já conheceu: São Paulo de Piratininga da Vila dos Jesuítas.
P.P.S.: Eu sou a favor do aborto. Mas nunca fui carvão, nem queimado em fogueira, então sobre isso me recuso a opinar. Nunca carregarei no meu ventre um fruto, não sangro todo mês, e não faço a mais pálida idéia, ainda que imaginária, do que é dar-se por grávida por causa de um mero deslize apaixonado de transar com o namorado em dia errado. Deixa as que sabem o que é ser carvão opinarem…)
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