Estratégias para entrar e sair da Pós-Modernidade
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para Rodrigo Leite Prado, onde quer que esteja
e se é que ele me lê,
por seus esforços, ainda que vãos, de negar a pós-modernidade,
e de amar
Shortbus é o mais intenso filme de amor que vejo desde Chasing Amy, de Kevin Smith. “Filme de amor”, no sentido que A Um Passo da Eternidade ou Tarde Demais Para Esquecer, com uma diferença: se estes dois últimos não são exatamente Românticos, pois rompem com o Romantismo em prol de uma história de amor Modernista, em cenários urbanos e em condições sociais modernas, Shortbus junto com a obra de Kevin Smith, tratam de um amor na e da Pós-Modernidade.
E não apenas isso. É o amor como porta de saída para a barafunda neoliberal-terrorista que no fim das contas consistiu o pós-modernismo, dessubjetivizado e reduzindo os sujeitos a corpos gozosos – da mesma forma que nos dois classicões do auge de Hollywood citados coloca-se o amor como única solução possível para o desgarramento tenso e recalcitrante da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, as duas balizas do modernismo e da modernidade.
Não se trata aí de amor cristão (um personagem de Shortbus, como todos os outros afeito a surubas, diz logo no começo: “Não posso amar todo mundo! eu sequer posso conhecer todo mundo!”), nem do amor romântico que se entende como prêmio ao fim da batalha, e como possibilidade de felicidade. Possibilidade e felicidade são duas coisas que não estão em jogo em Shortbus: é claro que só há felicidade sexual, e como diz Manuel Bandeira só há diálogo mesmo de um corpo com outro corpo.
Trata-se do amor como impossibilidade constitucional. Não é a impossibilidade conjectural das diferenças de classe, geográficas, ideológicas, algo meio Romeo&Julieta. Nem de uma impossibilidade a ser vencida. Antes, é sustentar essa impossibilidade como ato – fazer o impossível acontecer e nem por isso ser menos impossível. Um impossível-em-marcha, como impossível é viver em Nova York posteriormente a 11 de setembro de 2001; como impossível é que de uma orgia, dois olhares se cruzem numa fidelidade intensa e excludente a que se pode chamar (redundância!) Amor. O amor como um doloroso caminho de volta a si-mesmo.
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“É como nos anos 60 – só que sem esperanças…”
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