Formidavelmente Belo-Horizonte!
Atenção, mineirada!
O mais florido ramo do pós-axezismo aterriza no legendário A Obra sábado próximo, dia 6 de dezembro, às 20h: Dam, seus belíssimos falsetes, seus teclados coloridérrimos, e sua Formidável Família Musical.
A Formidável é a mais mineira das bandas de rock da Bahia. Numa justa medida, com seus ares beatles, é tudo que o Skank poderia ter sido e não foi. “E não foi” por motivos muito peculiares da história do rock na Bahia nos últimos 20 anos (isto é: um pouco antes, durante e um pouco depois dos negros tempos de recrudecimento do carlismo, que vem a ser a ditadura político-estético-econômico que Antônio Carlos Peixoto de Magalhães impôs ao estado, via voto, com direito a tortura fiscal coletiva, e a tortura individual como no espancamento dos estudantes no Campus da Graça em 2001).
O axé-music era, e é, a contraparte musical do carlismo: um estilo empobrecido, ditatorial e espoliante economicamente, que vindo do povo, o rechaça. Contra o axé, o rock bahiano se afirmou na última década, criando uma polaridade improdutiva.
Com a ruina do axé-sistem (e do carlismo) houve uma reaproximação democrática: o Retrofoguetes, rockabillie da melhor estirpe, passou a tocar frevo-elétrico em guitarrinha bahiana, por exemplo.
A Formidável faz parte (junto com O Círculo e o Clube da Malandragem, entre outros) da primeira geração que surge fora desta oposição axé X rock. O que não quer dizer que não façam rock: é flower-power no melhor estilo Greatful Dead, como só a San-Francisco brasileira, libertária que só ela, poderia engendrar: São Salvador da Bahia de Todos os Santos.
Esta “sobrevivência em meio a claustrofobia” foi, no longo prazo, benéfica: embora vivamos em franca democracia estética, há rigor. Não se sede uma vírgula ao mercado fonográfico, porque aprendemos a sobreviver na produção independente; e por outro lado, adquiriu-se o know-how técnico da indústria do axé. Em Minas, provavelmente isso não foi possível, levando por exemplo o Jota Quest, que surgiu como uma excelente banda de soul e funk, degenerar-se num pop quase axezeiro…
Há males que vêm para bens – embora só possamos dizer isso hoje, que a ditadura (do abadá e de Malvadeza) acabou.
Mais do que isso, o colorido acachapante da Capital Diaspórica, o azul berrante da baía de Todos os Santos contra aquele sol ateniensemente amarelo, garante à musicalidade da Formidável um colorido suavemente psicodélico, na trilha outrora aberta pela histórica A Cor do Som.
Vale lembrar: no Bahia De Todos Os Rocks desse ano, a Formidável foi a única que teve indicação de finalista em duas categorias (eram 5 finalistas por categoria): melhor show (na Cruz-Caída, Pelourinho, em janeiro, no Bahia de Todos os Sons, domingos fim de tarde junto com O Círculo) e melhor música, Já Não Dá Mais (pra acreditar no amor).
Se eu morasse em BH, eu não perdia por nada!