“Berlim AlexanderPlatz” na Walter!
É o tipo de notícia cinematográfica que só se vê de dez em dez anos: a Walter da Silveira exibe, a partir de sexta-feira próxima dia 28, até dia 4 de dezembro, a obra-prima de Rainer Werner Fassbinder. Atenção: o filme tem quase 15h de duração, portanto a cada dia será exibido três dos 12 episódios, e no dia 4 o longuíssimo e belo Epílogo de mais de uma hora de duração, totalizando 13 partes.
Há dois defeitos neste programa: Fassbinder concebeu Berlim originalmente para a televisão alemão, embora tenha gravado em película. Neste caso, será exibido em digital, e no cinema. Felizmente, o assisti na DirecTV (Eurochannel), há quase uma década.
Não costumo gostar de Fassbinder, pra mim o mais esquemático do Novo Cinema Alemão. Mas em AlexanderPlatz ele se supera. Trata-se de uma mini-série sobre a ascensão do nazismo durante a crise inflacionária de Weimar. Contudo, não se enfoca um agente político, um intelectual, nada. O foco está num dos muito desempregados desta hecatombe econômica provocada pelo Tratado de Versalhes. Bêbado, quarentão, solteiro, biscateiro e com sequelas de combatente da Primeira Grande Guerra (ele não tem a mão esquerda), vai sendo cooptado pelo Partido Nacional-Socialista sem dar-se conta disso. Aliás, sem nem saber bem o que seja tal partido.
Primeiro, é contratado avulso para panfletagem; depois, cooptado por um aliciador de prostitutas, a partir de quem conhece uma, semi-judia, por quem se apaixona.
O gênio não está só neste arranjo narrativo microfísico, e ao mesmo tempo monumental; analítico, e profundamente humano. A direção de arte é de chorar de linda; a iluminação, propositadamente ensebada, espapoca em estrelas de borrões na maquiagem intensionalmente mal-feita dos atores, nos móveis velhos, no cenário, de modo por vezes ofuscante. No Epílogo, a mastodôntica cena da crucificação da prostituta, num cenário de pano, teatral, que é uma versão expressionista do mural do altar da Capela Sistina, de Michelangelo, e ainda uma referência a cena turning-point do filme mais emotivamente impactante da história do cinema, o Rocco E Seus Irmãos, de Luchino Visconti.
Chamar esta exibição de “imperdível” é pouco. Beira o extasiante saber que irá acontecer ela em alguns dias…