“Geddel faz melhor que eu” (ou: João Henrique, o último – e mais assumido – dos medíocres)
do Política Livre:
Conviria ao prefeito João Henrique (PMDB) duas alternativas em momentos políticos delicados, como o criado ontem com a publicação de um artigo do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), abrindo mão dos cargos no governo Wagner: cavar um buraco para se meter dentro ou então ficar nos limites estritos da Prefeitura, mandando dizer que não se encontra. Para evitar declarações como a que deu ontem em Brasília ao jornal A TARDE, ao ser questionado sobre o assunto: “Política eu deixo para o ministro fazer, o ministro faz melhor do que eu”. Ohhh, quanta modéstia! Conta o jornal ainda que o prefeito complementou as declarações dizendo que, àquela altura, no final da tarde, ainda não lera o artigo. É… non sense pouco é bobagem!
Em 2002, a eleição de Paulo Ganem Souto ao governo do estado representou a primeira quebra no carlismo. Vindo do grupo de ACM, era um crítico do Cabeça Branca, e lhe impôs uma condição para ser candidato ao executivo estadual: “Quem manda no meu governo sou eu, e não o senhor”. Toninho Malvadeza teve de engolir seco, sem o que ele não elegeria ninguém do PFL na Bahia. Em 2006, enquanto Antônio Carlos Peixoto de Magalhães ameaçava “estrangular o governo Wagner” (sic), Paulo Souto realizava a mais democrática transição de que a Bahia tinha notícias desde o trânsito entre o varguista Landulfo Alves (PTB) e o neo-antivarguista e futuro jucelinista Octávio Mangabeira (UDN-light, ex-PSD).
Em que consistia essa quebra metodológica no carlismo? A idéia de autonomia de ação, de ausência de caciquismo. O Governo César Borges foi um governo ACM-ao-cubo; o Governo Paulo Souto foi um Governo Paulo Souto. Neoliberal? sim. De direita? Sem dúvidas! Mas dentro de uma concepção toda de Paulo, e por vezes a revelia das concepções do velho e truculento tirano.
Quando se diz que João Henrique reeleito via Geddel é uma “volta do carlismo”, não se trata de uma fantasística aliança futura entre o atual ministro e o ex-governador ou Grampinho (aliás, improvável). Se trata de métodos: delegar a um cacique suas próprias opiniões políticas faz parte do capachismo que ACM exigia, ou coagia a ter. Não creio que Geddel o exija, mas JH o dá assim mesmo. E afinal, se ele não entende de política tão bem, por que ocupa o terceiro mais importante cargo político municipal do país pela segunda vez seguida? Seria ele um mero gestor? Se mero gestor, por que tantas travas na gestão?
Toda a metodologia carlista recaiu justamente sobre quem primeiro derrotou estes métodos, nas municipais de 2004. Estão lá a falácia midiática, a relação obscena com a especulação imobiliária (via PDDU), e a subserviência ideológica ao caciquismo, no limite do emburrecimento. Só falta a truculência e a violência física, pública e assumida. Sinceramente, não creio que estas virão – não por bondade, mas por cinismo da parte deles. Não obstante, laivos aparecem, e os ambulantes do Iguatemi já devem estar arrependidos de terem votado em quem votaram e em quem divulgavam a gritos e adesivos de “15” que iriam votar…