A Arauto da Mediocridade
A diretora teatral e gestora do legendário Theatro XVIII, Aninha Franco, pirou de vez, e adotou o discurso psicótico típico de gente da extrema-direita do PFL, como o deputado José Carlos Aleluia – ao custo de negar a realidade completamente. Parece uma cega que em terra de olhos, se acha rei.
Do Caderno Muito, do Jornal A Tarde:
Bahia, balneário sem cultura
O Brasil tem três capitais, a de fato, na Avenida Paulista, em São Paulo; a de direito, em Brasília; e a oral, a Rede Globo. Desde que a Bahia perdeu o posto de capital da Colônia pela necessidade de escoamento do ouro das Minas Gerais através do porto do Rio de Janeiro, a nossa tendência é ser a capital da cultura, um negócio tão rico quanto o da cana-de-açúcar, se houver produção e engenho. Nossos artistas são motores de alguns dos movimentos artísticos mais importantes do País. Não há Bossa Nova sem João Gilberto e não há Cinema Novo sem Glauber Rocha. Sem Milton Santos, o pensamento contemporâneo brasileiro não existe. Olodum, Ilê Aiyê e Timbalada são marcas capazes de produzir o mais vigoroso turismo cultural do País. E, no entanto, Salvador nunca recebeu uma secretaria capaz de pensar a diversidade dessa cultura, ou impulsionar seus meios de produção.
Sua realização de cinema é bissexta, seu teatro, há pouco tempo vigoroso, está voltando à produção zero, e se não fora a axé-music, ai, ai, ai, o que seria de nós, Sr. prefeito? A sensação, em 2008, é que fechamos as portas da cidade na Quarta-feira de Cinzas para abri-las no sábado de Carnaval de 2009. Nada de significativo aconteceu no período senão as eleições, como se fôssemos um balneário, lugar belíssimo sem vida cultural, porque se cultura é tudo que a espécie humana cria, estamos empenhados, dependendo da natureza, em enfiar peidos em cordões para fazer colares que nunca ficam prontos. Nem há consumidores. A Secretaria de Cultura do Estado está, como declara, atuando nos municípios mais necessitados. Em Salvador, por onde passou com seus assessores, não nasceu mais relva.
Podemos aproveitar este início que, precisamos criativo, para engendrar a Secretaria Municipal de Cultura, com um secretário escolhido pelos (poucos) artistas que ainda moram na cidade, porque a maioria se foi, fugindo da seca. Podemos instalá-la no Pelourinho, nos imóveis que seriam ocupados pela secretaria estadual que não tem por que permanecer em Salvador já que não atua para ela, e pode ser transferida, perfeitamente, com seus 500 funcionários, para um dos 416 municípios do Estado, com um PIB adequado à sua produção. Lajedão? Quem sabe?
Primeiro, o que comparece por último: Aninha não poderia ser mais grosseira com o Secretário de Cultura Márcio Meirelles. Fruto de puro ressentimento, do início da gestão de Márcio quando este cortou as verbais estatais para o XVIII, tendo em vista que este apresentou recibos de boi (sempre de boi…) como justificativa de gastos. Desde quando um teatro lida com bois?
Após o entrevero, a SECULT voltou a financiar o XVIII. Aninha usou na época, e usa agora, os piores adjetivos para atacar alguém que, além de gestor mundialmente reconhecido cujos efeitos práticos sobre os hábitos mais comezinhos da capital e do estado são quase palpáveis e chegam a ter cheiro, é seu amigo de longuissima data. Isso sem usar nenhum fato para argumentar coisa alguma.
Depois, como assim os “poucos artistas” que vivem na cidade?! São poucos? Senão vejamos: na música, temos A Volante do Sargento Bezerra, o Bando Virado no Mói de Cuentro, o Clube da Malandragem, Pirigulino Babilake, Coletivo Übber Glam, Tito Bahiense e o Circo dá Samba, Gabriel Póvoas, Clécia Queiroz, A Fomidável Família Musical, O Círculo, Vandex, Emerson Taquari, o Samba das Moças, e os grupos de choro que tocam regularmente no Botequim Bartô e no Cabaret dos Novos do Teatro Vila Velha. Nota: não citei aqui ninguém que não fosse da nova geração, e ninguém nem de longe ligado ao carnaval ou ao axé (Armandinho Macedo, por exemplo).
Nas artes plásticas: Burity, Bel Borba, César Romero, Maria Adair, Bruno Marcelo, Juracy Dórea, Calazans Neto, Tati Moreno. No Teatro: Harildo Déda, Rita Assemany, a própria Aninha, o próprio Márcio, Luiz Marfuz, Nehle Frank, Hebe Alves, Paulo Henrique Alcântara, Gil Vicente Tavares, o Bando de Teatro Olodum, o Núcleto TCA de Teatro. Na dança o Balet Folclórico, o Balet do TCA, Carlos Moraes, Suzy Rusch, Gilmar, Zebrinha, Clara Trigo, e outros.
Como se vê, são pouquíssimos artistas! Fora os anônimos…
Sobre a atuação da SECULT em si, é curioso que ela vitupere na semana seguinte ao encerramento do maior festival internacional de artes cências que o Brasil já viu: o FIAC Bahia. Que coincidiu com um festival internacional de cinema, outro de rock, outro de urbanismo. Realmente, a SECULT não faz acontecer nada em Salvador.
Aninha envereda num discurso reacionário, alienado, carlista mesmo. Olhe ao redor, Aninha Franco!, aqueles que concordam com suas afirmações são justamente os que não frequentam a cultura, senão os shows do Chicretão. Não é apenas uma classe média endinheirada, como anti-urbana: aquela da Pituba, e não da Graça, jeca e apaulistanada (enquanto a Graça tem o melhor da aristocracia reconvexa). Aninha, cuidado com quem faz coro com você: eles te chamariam de sapatão só por birra, e não sabem nem onde fica o Teatro XVIII…
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