Quem ganha e quem perde no segundo turno de Salvador 2008?
Desde já, pode-se dizer os vitoriosos e derrotados política e moralmente.
Os grandes (auto)derrotados são a mídia e os institutos de pesquisas. Mesmo que João Henrique ganhe, não vai ser por uma diferença de 12% como vêm dizendo o Datafolha e o IBOPE recentes. O IBOPE nisso fez uma mea-culpa, depois de ter propalado dois irreais empates cravados.
Ganha o Governador Jaques Wagner; no primeiro turno, politicamente, além de eleitoralmente (ambos os candidatos que foram ao segundo turno o apoiam); agora, moralmente. Com todo o esgoto que Geddel Vieira Lima, João Durval Carneiro, e o próprio alcáide neuropata jogaram sobre ele, ele passou por cima da lama, sem se curvar a ela. Avisou que, e tentou não brigar com o PMDB o quanto pôde; chegou-se num limite e ele marcou posição pública, exigiu respeito e o mínimo de gratidão. Wagner agiu tão corretamente que até o PMDB da Assembléia Legislativa o apoiou nessa tomada de partido, e não apoiou o escroque troglodita Geddel Vieira Lima. Wagner sai da lama que jogaram sobre ele, um político muito maior e melhor do que entrou.
Nisso, o grande perdedor é o Presidente Lula. Se Walter Pinheiro (PT) se eleger, foi apesar de Lula, e em boa medida contra a frouxidão de Lula e a incapacidade deste de tomar partido. Lula diz que tanto faz JH ou Pinheiro, já que JH esteve do lado dele, Lula, até nos momentos mais duros. Fato, esteve. Fato, era anti-carlista. Não é mais. JH está colado com o espancador de adolescentes César Borges, por exemplo.
Com a subserviência de Lula a uma suposta aliança com o PMDB, Lula talvez consiga desfazer a maior vitória política de sua vida: a derrota do carlismo, a última das ditaduras militares latino-americanas. Se JH se reeleger, com as bençãos silenciosas do Presidente, será o retorno do carlismo pela porta dos fundos, travestido de lulismo.
Sintomático destes tempos em que Lula curva-se diante de um mais-que-suspeito (no sentido em que se diz mais-valia) Supremo Presidente do Supremo, o empresário Gilmar Mendes; nestes tempos em que afasta Paulo Lacerda da ABIN, num ato de profundíssima ingratidão, para proteger Daniel Dantas (o maior criminoso internacional da atualidade), a partir de uma reportagem (?) da Revista (?!) Veja. Fim melancólico, em que, ao contrário de 2002 e 2006, o medo vence a esperança…
Lula aliás, em cima do muro e sem apoiar seu próprio partido e a esquerda histórica bahiana (inclua-se o PSDB local), aliás foi profundamente ingrato com a capital que lhe deu sempre mais de 70% de votos em qualquer turno, e no segundo tempo de 2006 mais de 90%. Com este estado que, mesmo em 1989, já lhe dava maioria de votos mesmo nos grotões. Ingrato com o Governador Jaques Wagner, que, ao contrário do que se pensa, não venceu como “o poste de Lula”, mas por esforços próprios (aliás, como Pinheiro), e que ajudou, como Ministro das Relações Institucionais, a enfrentar os piores incêndios, não só políticos como populares (o episódio do jejum de Dom Flávio Cappio), do primeiro mandato presidencial do PT.
Espero que ele se lembre de como beijou a boca que nele escarrou, e como apedrejou a mão do afago, em 2014. E não conte mais conosco.