João Durval erra de endereço ao chamar governador de anti-ético

25/10/2008 at 10:24
do site Política Livre:

Com todo o respeito à idade do senador João Durval (PDT), este Política Livre não poderia deixar de registrar como surpreendente e inadequada sua acusação de que o governador Jaques Wagner (PT) foi anti-ético por, num misto de desabafo e discurso de campanha, ter chamado seu filho, o prefeito João Henrique (PMDB) de “covarde” e “mentiroso”, entre outros adjetivos pouco lisonjeiros, em meio a um comício de apoio ao candidato do PT a prefeito, Walter Pinheiro, num bairro do Subúrbio de Salvador.

Wagner não foi anti-ético, por exemplo, quando levou Durval pela mão na campanha de 2006 em que ambos se elegeram. Nem quando reclamou – e toda a Bahia política sabe disso – que não conseguia, também no auge de uma batalha cujo sucesso não se acreditava, ser atendido sequer ao telefone pelo prefeito para pedir apoio para o seu hoje indignado pai, colocado – e toda a Bahia sabe disso – em segundo plano frente a outros candidatos da família, a exemplo da mulher e do cunhado do prefeito, que se elegeram muito bem.

Wagner levou, sim, Durval a tiracolo pelo interior do Estado com o auxílio apenas de uma precária estrutura petista e isto lhe foi oneroso. Aliás, por isso, petistas ortodoxos chegaram a atribuir a Durval o epíteto pouco educado de “mala”, o que Wagner nunca aprovou. A propósito da acusação do governador de que o prefeito mente, vale lembrar que João Henrique diz que não foi candidato ao governo para dar oportunidade de disputa a Wagner, mas isto também não bate com a história – para não dizer, com a verdade.

Mais uma vez, porque todo mundo da política sabe que o prefeito desistiu de concorrer ao governo por medo de perder e repetir a experiência semelhante e fracassada que seu pai tivera anos antes, quando largou a Prefeitura de Feira de Santana e disputou o governo do Estado, fato que lhe era lembrado, a todo tempo, estrategicamente, principalmente pelos adversários do carlismo. O governador pode não ter feito seu desabafo no momento mais oportuno – ou ter misturado um ressentimento que possui, embora negue, com o acirramento da campanha.

Mas, nesta história, não é ele quem mente ou age de forma anti-ética.

Comentário:

Nunca em minha vida admirei tanto um político, ainda vivo, como admiro o Governador Jaques Wagner. Quando votei nele em 2006, sequer fiz campanha, e dizia votar de “nariz tapado” apenas para não colaborar com o que restava de carlismo, na figura não obstante admirável de Paulo Souto.

Eleito, minhas expectativas eram baixas. Aos poucos, Wagner se mostra um administrador capaz de tocar o governo mesmo com os inúmeros problemas internos e externos, próprios e alheios, que encontra; que, se tem secretarias decepcionantes (sempre se espera mais de Jorge Solla, um dos maiores sanitaristas vivos no planeta), tem outras surpreendentes (Manoel Vitório, Ildes Ferreira, e sem querer ser repetitivo, Márcio Meirelles na Cultura).

Mais do que isso, é um homem extremamente cortez! Pra quem viveu numa terra em que o mandatário dava tapa na cara de jornalista e chamava, em público, esposas de amigos de “putas” em alto e bom som, isso faz toda a diferença.

Não é que ele tenha a docilidade bunda-mole de Waldir Pires. Ele é inteligente e culto, sem ser cerebrino; gentil, polido, sem deixar de ser firme. Transparente, e talvez o político mais consequente de seus atos e com clareza da posição histórica que ocupa, com humildade mas sem subserviência ou medo.

Não imaginei jamais que iria admirar o Governador como admiro – e isto só faz crescer desde início de 2007.

João Durval foi meu candidato ao Senado. Fiz campanha, usando ironicamente uma paráfrase do slogan do Partido Socialista Francês para a eleição de Chirac contra Le Pen: “vote no velho gagá, não no escroque”. O escroque em questão era Rodolfo Tourinho (PFL – aliás, primo de Daniel Dantas). Outrossim, sempre disse que a tão propalada senilidade de Durval é mais ataque midiático do que fato.

Agora, o clã Barradas-Carneiro tem se mostrado despótico, com este tipo de acusacionismo profundamente injusto. João Henrique devia lembrar que se sua prefeitura se recuperou da barafunda em que se meteu no fim de 2006, foi largamente graças ao Governo do Estado (Wagner), e não graças a Geddel. O fim definitivo do provincianismo em que viviamos culturalmente se deve mais a SECULT do que às tímidas medidas anti-axé da fragilíssima Fundação Municipal Gregório de Mattos. E Wagner nunca lhe cobrou esta conta – com a discrição e a impessoalidade que lhe são próprias.

É uma espécie de tirania neo-carlista, só que feirense, interiorana. Déspotas de província – o que quer dizer: pior do que ACM ele próprio, cuja tirania era esclarecida e cosmopolita (afinal, foi com ele que Salvador alçou vôos mais longos).

Embora eu mesmo tenha dito anos atrás que a queda dos Magalhães poderia significar a ascensão dos Barradas-Carneiro, não deixa de ser decepcionante. Mil vezes a impessoalidade aberta e afável do Governador Jaques Wagner – talvez o melhor que a Bahia tem em muitas décadas, ouso dizer, desde Antônio Baobino.