O Recôncavo, meus medos
No recente processo de desconstrução do provincianismo em que Salvador se meteu nos duros anos do carlo-axezismo, falta uma peça: voltar ao Recôncavo. Assim como os mineiros de BH voltam a Minas Histórica, com uma diferença: a Minas Histórica são cidades mortas – o Recôncavo é vivo!
O Recôncavo tem cidades minúsculas, e até pouco tempo com um patrimônio cultural material e imaterial mal-cuidado (diferente de Salvador), e que mesmo assim continuaram sendo cosmopolitas. Cachoeira tem dois sebos fantásticos, com donos muito letrados apesar de claramente vindos “do povo”, três cafés – um deles no ateliê do poeta Damário da Cruz, outro onde rola jazz madrugada afora. Além de algumas galerias de arte, inclusive com boas exposições nada pequenas (até mesmo em
São Félix, do outro lado do Rio Paraguaçú)
É tanto assim que lá, ou em Santo Amaro, ou em Cruz das Almas (que também tem este tipo de recurso bem, digamos, paulistanamente Vila-Madalena – desses recursos que os recifenses, sabe lá deus por que, acham que só tem em Recife) sempre se paquerou, se flertou.
Todos sabem que pra mim a maior marca da abertura democrática da capital barroca hoje é o fato de que, finalmente, as pessoas flertam a vontade, homens andam de mãos dadas com homens em shoppings digamos “da elite”, etc. Salvador está aprendendo, ou reaprendendo, o hábito cívico de flertar.
O Recôncavo tem muito a ensinar a Salvador, neste quesito…
(e aviso logo: irei ao Embolo D’Ajuda, em Cachoeira, no dia 15 de novembro. Verdadeiro carnaval de rua, com troças de marchinhas a varar madrugada, esse ano na meia-noite do dia 15 para o dia 16 tem show da Orquestra de Dobrados de Maestro Fred Dantas!)
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