Quem é o poste?
Walter Pinheiro surgiu, e comportou-se durante algum tempo, como “o poste” destas eleições em Salvador. Embora venha de uma carreira política sólida e autônoma, era bem menos conhecido do eleitorado em geral do que sua vice, Lídice da Mata, do que as vereadoras Olívia Santana e Aladilce, do que seu antes concorrente a vaga de candidato do PT, Nelson Pelegrino.
Para alavancar sua candidatura, mostrava-se por um lado como “o candidato de Lula e Wagner” (em tempo: eu não sei de onde se tirou que Jaques Wagner é bom eleitor, transfere votos ou tem votos a transferir – e olhe que eu o admiro profundamente e creio que se reelegerá com certa facilidade em 2010), e por outro como alguém que galgou sua vida política pelos próprios esforços. Foi, durante algum tempo, um semi-poste.
A própria campanha de João Henrique contra ele, mostrando imagens em que Pinheiro se dizia “afastado do PT”, ajudou a desconstruir essa idéia de “poste de Lula”. Eu mesmo comentei aqui que me agradava duplamente essa parcimônia crítica de Pinheiro com o resto do partido e com o (duvidoso) Governo Lula (único sujeito até hoje em que votei pra presidente, não obstante). Parece que agradou a outros eleitores também.
Assim, se Pinheiro começou a campanha como poste, não é como poste que chega ao segundo turno.
Já João Henrique fez um caminho oposto. Em 2004, era o candidato que tinha história política mais sólida e independente. Representava um anti-carlismo brando, capaz de negociações (necessárias) com o Governador Paulo Souto. Seu primeiro ano de governo foi eficiente e, ao seu modo, entusiasmante. O segundo foi claudicante. O terceiro, uma hecatombe que envolveu até assassinato de um servidor dentro de um prédio público municipal, trens que não passavam pelo túnel, e outras aberrações.
Não acho, sinceramente, pela pessoa que é, que o fato de seu melhor ano de governo ter sido justamente o último seja um ato eleitoreiro. É uma coincidência: sua capacidade administrativa recuperou-se quando ele colou ao Ministro Geddel Vieira Lima. Não se trata de mera facilidade de verbas federais (isso JH sempre teve), mas de traquejo técnico e político, melhores quadros mais articulados entre si (cito, por exemplo, o atual Secretário Municipal de Saúde, José Carlos Brito).
Entretanto, com isso João Henrique Carneiro chega ao segundo turno como “o poste de Geddel”. No começo de campanha, sua rejeição era maior até do que a de Grampinho! Ela foi caindo, e com razão: eu sempre disse que o Governo João Henrique era muito menos pior do que a TV Bahia (Globo) queria fazer crer, e muito melhor, proativo, eficiente e socialmente responsável do que o Governo Antônio Imbassahy quando este estava no PFL.
Também não estou entre os que acha que uma reeleição de JH implique num governo carlistóide, por causa de sua tática proximidade a Grampinho neste segundo turno. Há um interesse social sincero em JH e mesmo em Geddel, que não havia no carlismo clássico e há muito menos no neocarlismo tampa-de-binga.
Acontece que, chegar ao segundo turno como “o poste que Geddel elegeu” (quando se tinha uma história política pessoal mais autônoma), já seria ruim se o adversário fosse “o poste de Lula”. Pior ainda se, justamente, não é…