Contra Mendelssohn (ma non troppo)
Sempre me perguntam: “mas afinal, o que você tem contra Felix Mendelssohn Bartholdy?” – Muitas coisas: o fato de ele ser um menino prodígio filho de uma família podre de rica que queria ser o novo Mozart o coloca nas antípodas de Wolfgang Amadeus (Mozart foi uma criança prodígio de uma família relativamente pobre que vivia da música como atividade remunerada diária, dentro de uma tradição semelhante ao dos Bach), mas também não é aristocrático o suficiente para ser Haydn (que ademais só o era pela idade provecta em que mantinha o viço da juventude); com isto, Felix está sempre exagerando nos recursos de suas composições, querendo mostrar que sabe (às vezes mais do que realmente sabe) – pra resumir, uma Malú Magalhães da música erudita (e sem um Marcelo Camelo pra chamar de seu).
Mas faço hoje uma ressalva: foi o menino Bartholdy que formalmente resgatou a obra de Johan Sebastian Bach (e nesse sentido foi mais Mozart do que Mozart ele mesmo), que incentivou jóvens pós-beethovenianos como Schumann e Schubert executando suas composições sinfônicas, e que para além do romantismo inicia um formalismo historicista que vai dar em Brahms – Mendelssohn é talvez o compositor mais consciente de sua função e posição histórica (e da História que o antecede e o sucederá) de todos os tempos, e o é assim ainda na adolescência!
Eu diria hoje que a maior qualidade de Mendelssohn é seu maior defeito: ele é o segundo melhor compositor em vários quesitos – o segundo melhor herdeiro de Mozart (perde pra Beethoven), o segundo melhor descobridor de J. S. Bach (perde pra Mozart), o segundo melhor formalista (perde pra Brahms), o segundo melhor compositor posterior a morte de Beethoven (Schubert existiu…), e por aí vai.
Tá certo, continuo na minha militância “Mendelssohn: até quando?” – mas em andantino, non troppo…