Sintomas imobiliários
– Por gentileza, é sobre um apartamento 3/4 que está disponível para alugar…
– O senhor é corretor?
– Não, eu quero alugar. O senhor não é corretor?
– Não, o apartamento é de minha irmã e eu estou alugando em lugar dela.
– Como posso fazer uma visita?
– Moro longe, não sei qual horário disponível eu teria…
– Mas sua irmã, a proprietária, mora perto? Posso pegar a chave com ela e eu mesmo visitar, depois devolvo…
– Ih, ela não libera a chave não…!
– Então acho que ela não quer alugar o imóvel.
– Ela quer sim, só o que ela está gastando de dinheiro com condomínio atoa…!
– Mas talvez ela queira exatamente isto, gastar dinheiro com condomínio atoa.
– Que loucura…! Quem ia querer isso…?!
– Várias pessoas, meu consultório e o de vários outros psicanalistas estão cheios de psicanalisandos que justamente gozam de gastar dinheiro com coisas inúteis.
* * *
Como dizia Emílio Rodrigué, casas também são sintomas (e a hegemonia dos atendimentos por videochamadas e chamadas de voz lança a Psicanálise de volta a suas origens: a frequentação do psicanalista ao domicílio do psicanalisando, e não o contrário, agora de forma virtual), de modo que a maior parte dos imóveis postos a venda ou para locação não o são pelo fato de que os proprietários de fato queiram alugá-los ou vendê-los – e isto não apenas porque, em casos de imóveis antigos ou herdados, eles já não lhes custem financiamentos (Clara é a verdadeira especuladora imobiliária em Aquarius) mas também justamente quando e se ainda lhes custam e lhes oneram muito (o gozo é sempre masoquista, o mais-de-gozar equivale a extração de mais valia ainda que nenhum Outro lucre com ela).
Quer dizer: o problema fundiário brasileiro é, também, de economia psíquica.