5º Festival SalaDeArte de Cinema
Começa hoje a edição deste ano, que agora passa a se chamar de Festival de Cinema de Arte de Salvador. O nome não me agrada. Como cinéfilo, todo cinema é arte, de Titanic a Encouraçado Potemkin. A diferença, pra mim, se dá em modos de produção (cinema de autor X cinema de estúdio), ou entre estilos nacionais entre países (Hollywood X Realismo Social Italiano) ou dentro de um mesmo país de acordo com épocas (Realismo Poético X Nouvelle Vague, na França; Cinédia & VeraCruz X Cinema Novo, no Brasil). Modo de financiamento e identidade temporo-nacional às vezes coincidem (quase todo cinema de Hollywood é de estúdio) e às vezes não (a Warner dos anos 50 fazia praticamente apenas cinema de autor, e o cinema do Realismo Poético da Pathé era sim um cinema de estúdio, por vezes de baixa autoralidade – não obstante tenha tido Jean Vigo e Marcel Carné, entre outros).
O Festival SalaDeArte nasceu junto com o que um dia foi o Panorama Coisa de Cinema. Na época, a Sala de Arte (que tinha apenas as salas do Clube Bahiano de Tênis e do Cine XIV, no Pelourinho) junto com a estatal Walter da Silveira estavam peitando tanto o poderia do Multiplex, que este teve de se aliar ao Panorama e fazer exibições também; e antes, já havia exibido em shopping center clássicos de Hitchcock restaurados, por exemplo.
Nos duros anos do axezismo, o cinema era a resistência fundamental de Salvador. Quando o grupo Sala de Arte surgiu, todo mundo dizia que não ia dar certo por falta de público. Pois bem: eles criaram um público, ao ponto de, a partir daí, a sempre vazia Sala Walter Da Silveira começar a lotar.
Depois, quando do II Panorama Coisa de Cinema, houve uma briga interna até agora não bem esclarecida entre o Grupo Sala de Arte e Cláudio Marques, que desde estudante produzia o fanzine de crítica fílmica (distribuido na Walter gratuitamente) Coisa de Cinema. Aí, a Sala de Arte deslanchou: surgiu o I Festival Sala de Arte, e a cada ano abria-se uma sala nova em cada canto da cidade. Até que ano passado se chegou a 6 salas! Hoje, retroagiu-se para apenas 4 – que em breve devem ser reacrescidas de 3, reabrindo o Cine XIV, e instalando duas no Itaigara.
A programação desse ano traz Charles Chaplin em duas cópias restauradas (O Circo e Em Busca do Ouro), um clássico do maior cineasta que a américa hiberofônica já produziu (Hector Babemco, com O Beijo Da Mulher Aranha), dois do mestre John Huston (entre os quais o drama osso-duro The Misfits, com o trio arrasa-quarteirão Marylin Monroe, Montgomery Clift e Clark Gable), além da mostra de lançamentos de um total de 50 longas e 11 curtas, e duas oficinas, uma de direção de arte, outra de crítica cinematográfica para a web. E ainda tem mostra competitiva, com votação pelo público, de 6 curtas metragens.
A Sala De Arte costuma vender passaportes de 10, 20 ingressos, barateando bastante o valor da entrada. Confira!
Pingback: Crítica Peripatética – a práxis da autoralidade em pé | O Último Baile dos Guermantes