A Vera Condenação ao Fim do Éden
Poema que foi premiado em 2007, na XX Noite Nacional de Poesia, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, com o 3º lugar. De um técnica que quase nada tem a ver comigo: borgeana, e com um tema romântico, quando sou um cabralino-cummingsiano e só cometo borgeices no conto. Além de ser declamatório, um poema pra voz – não atoa premiado neste concurso que avalia também a recitação e a recitabilidade dos poemas propostos. Depois levou menção honrosa no Prêmio Felippe D’Oliveira esse ano, já tinha levado pela Guemanisse em 2007, e concorre em outros certames que não exigem ineditismo. Vale ler, portanto.
A Vera Condenação ao Fim do Éden
(em memória de Borges, poeta
e de John Steinbeck)
para meus sobrinhos, Linus e Rita
Homem,
Terás a terrível sina de nascer amado por todos
e todos te quererão feliz,
cada um a seu modo
sempre contraditório com o dos outros.
Te frustrarás eternamente
a cada uma das infinitas tentativas de satisfazer a todos
sem agradar, nunca, a ninguém.
Serás amado sem que saibas que és.
Quase-sempre que te descobrirem amado,
perderás o amor.
És condenado a ver passar todos os definitivos amores
e morrerem todos os amigos.
Só será eterna a ausência de eternidade.
Terás terríveis momentos
em que serás a pessoa em que menos confias
e com quem menos contas;
Principalmente, desejarás que estes sofrimentos não cessem jamais:
clamarás pela tortura
(ausência da qual chamas de “morte”).
Ao fim, nada lhe será dado
salvo o peso de teus ossos
e acreditarás, por isso, que és feliz.
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