Da Crítica do Estado ao Estado da Crítica
Alvíssaras para o fato de que a Fundação Cultural do Estado da Bahia resolve lançar um edital para prêmio de produção em crítica cultural nas mais diversas áreas. Lembramos que isto é, em boa medida, apenas uma ampliação do prêmio em crítica cinematográfica Dr. Walter da Silveira, lançado ainda em 2008. Mais loas ainda se levarmos em conta que, paralelamente ao lançamento do concurso, haverá uma semana inteira de seminários de crítica, tendo como palestrantes gente da velha guarda, mas seguramente reunindo na platéia gente que foi o e fez o Anti-Axé e o Pós-Axé.
Sinal de que, ao contrario do que dizem os aninha-franco-atiradores, os efeitos da Reforma Cultural são tantos que há uma massa crítica e de críticos formada; e que o Governo Estadual está tão aberto a estas críticas, que agora resolveu estimulá-las mais diretamente e mais meritocraticamente (uma vez que imbecis auto-elogiosos como Henrique Wagner, que escreve sobre o que não viu e não sabe, já eram financiados antes pelo Fundo de Cultura).
Fica no entanto um reprocho: servidores públicos estaduais de outras secretarias, órgãos, autarquias e poderes não podem participar do certame – o que evidentemente me exclui. Questão não é pessoal: meu trabalho como crítico já é reconhecido o suficiente aqui e alhures – e tanto melhor se eu seguir sem receber um tusta sequer do Estado, me mantendo autonomista e independente; seria pessoal no tocante a produção de literatura de ficção – na qual consigo ser premiado no Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, mas na Bahia não posso sequer me inscrever.
Contudo, a questão é mais-além. Vamos supor um professor estadual que mora em Xorroxó, tem um projeto cultural massa, mas não consegue inscrever porque comete o crime de ser servidor público estadual de outra secretaria; ou uma enfermeira em Uauá que produz crítica e literatura – coitada, quem mandou ser concursada da Secretaria de Saúde do Estado?! Coitados mais ainda destes minúsculos municípios que podem ficar sem qualquer atividade cultural mais qualificada se os servidores estaduais de outras secretarias que lá trabalham e residem não poderem ter demanda, espontânea ou via edital, feista à SECULT atendidas.
O estado geograficamente mais parecido com a Bahia é Minas Gerais (são os dois que faziam sentido à extinta Região Leste). Em Minas Gerais, só não podem se inscrever servidores da Secretaria de Cultura do Estado – servidores de outros órgãos estaduais se inscrevem livremente em editais estaduais de cultura de lá. A questão é mudar este item na Constituição Estadual da Bahia – a que nem o mais carlista dos carlistas, quero crer, fará força contra. E dois-terços da Assembléia Legislativa o Galego tem de sobra. Márcio Meirelles era cônscio do problema crônico que isso representava (e que só não aparecia antes porque, oh!, não havia Secretaria Estadual de Cultura nem editais costumeiros e contumazes fazendo parte do calendário do estado e do orçamento permanente do mesmo); Albino Ru(b)im, que foi Presidente do Conselho Estadual de Cultura na época, deve saber também. Resta esperar que deixe de ser boi-de-coice e pressione o Governador e deputados sobre a premente questão.
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