De um empate eleitoral triplo, e de uma vitória política
Que as eleições na Capital da Diáspora estão emboladas, todo mundo sabe. Não só emboladas, como ocilam: ora Grampinho tá na frente, ora JH, ora Walter Pinheiro. A população da Cidade da Bahia hesita em escolher entre direita, centro ou esquerda.
Mas, nisso, já se pode ver uma vitória política: a de Jaques Wagner. Nunca antes uma eleição foi tão livre na Bahia. Até agora, o grande legado de Wagner tem sido uma democracia desbragada e contagiante, que se imiscui até nos hábitos mais diuturnos e comesinhos do cotidiano da Soterópolis. Se o eleitor ocila tanto, e mesmo que escolha Grampinho para prefeito, é porque sabe que a cidade não será mais refém dos desmandes políticos do governo estadual – como foi durante a prefeitura de Lídice da Mata, em que ACM, então governador eleito, espalhava lixo pela Praça da Piedade e a imprensa (carlista) dizia que Lídice não pagava a coleta. Isso ninguém me contou: eu vi.
Claro que esta maior liberdade de Salvador foi conquistada aos poucos, e já estava antes de Wagner, na gestão de Paulo Souto (ele próprio se elegeu em 2002 impondo a ACM que o governo seria dele, Souto, e que ACM não teria nenhuma ingerência a respeito – diferente do ocorrido com o subserviente César Borges), que já representava uma quebra no carlismo. Souto é de direita, mas não é feudal, é servidor público de carreira, tem muito mais responsabilidade social e estatismo que a média de seu partido. Uma direita moderna, competente e técnica, senão no discurso, ao menos nas práticas.
Durante a gestão de Souto, Imbassahy no PFL enfrentou, enquanto prefeito, duras greves de estudantes contra o aumento abusivo da passagem de ônibus. ACM queria que tais estudantes fossem espancados, como foram em 2001 no campus de Direito da UFBA, na Graça (na Graça!…!); Souto disse que nada faria sem pedido oficial do prefeito, que não pediu. Depois, nos primeiros dois anos da gestão originalmente anti-carlista (e por ora apenas não-carlista) de João Henrique, Paulo Souto não criou obstáculos na relação entre as esferas municipal e estadual. E aliás Souto tentava manter boas relações com o Presidente da República, mesmo se ACM esperneava contra isso.
Porém, com Wagner há um ponto de ruptura clara. Com Souto, isso era uma concessão pessoal contra e ao contrário da lógica em que ele se inscrevia. Com Wagner, esta mesma lógica já não existe mais, é outra. Wagner sabe que ele não faz, nem pode fazer, um governo de esquerda – e sim um governo de franca abertura democrática. Algo como André di Franco-Montoro fez em São Paulo em 1986.
Em qualquer resultado que saia amanhã ou no segundo turno, mesmo com um hipotético retorno do carlismo, Wagner já é o grande vencedor político deste pleito municipal.
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