Do ritmo dos textos

10/07/2011 at 18:36

Tenho escrito aqui com menos profusão, disciplina e constância do que merecem os que me lêem a quase 4 anos, ou do que eu próprio mereço. Talvez seja um fastio geral das minhas formas de vida atuais: 30 anos de idade, trabalho em excesso e montando apartamento; talvez, a crise típica que o formato-blog chega depois de um certo tempo. Adicione-se o fato de que tenho optado em parte pela transmissão oral, através de twittcam.

Proponho-me a compensar isso com outra coisa, mais além do que Oscar Wilde chamou de “Crítica como Arte” (ou a crítica como gênero literário): publicando aqui parte de minha obra ficcional, anterior e mais madura. Isto a medida em que os prêmios forem saindo – coisa que aliás já fiz antes quando recebi menção honrsa no Felippe D’Oliveira em Santa Maria (RS), bem como já ocorreu com textos inéditos.

A idéia vem do fato de que acabo de levar menção honrosa com um poema no prêmio paralelo da Feira Literária Internacional de Paraty, o OFF-FLIP – talvez o mais importante prêmio de material literário inédito da língua portuguesa. Por outro, tem a ver com a função original deste blog. Minha designer, amiga de mais de década, afilhada de casamento e agora que pariu praticamente comadre, me dizia que eu não podia ficar dando minhas opiniões sobre políticas públicas e cultura em geral apenas por email – eu não poderia ser um “John Donne terceiro-mundo”. Vale para o material literário que, mesmo após prêmio, acaba circulando só entre amigos e entre jurados e colegas premiados.

Quer dizer que doravante, ao menos uma vez por mês, sai aqui algum conto, poema ou crônica que já tenha perdido seu ineditismo por premiação ou publicação como menção honrosa em alguma coletânea. Sem mais delongas, o poema a respeito da estatueta do São Pedro Arrependido de Frei Agostinho da Piedade:

São Pedro Arrependido, de Frei Agostinho da Piedade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Da Piedade

variações sobre a estatueta do São Pedro Arrependido,

no Mosteiro de São Bento de Salvador

.

dormes

o sono dos injustos

(meditas?)

.

a palma ao rosto

anti-pensador

des-Rodiniano

.

e, improfeta, apenas um joelho dobrará

.

mas a tua mão

crispada

te delata:

traí-me!

.

* * *

.

três vezes antes que o galo cante

acordarás e voltarás a dormir

.

tendo lascivos sonhos, terríveis pesadelos

de pão e vinho e carne

e cravos e cruzes e espinhos

.

dos quais não te lembrarás

.

mas tua mão, sem chagas,

dolorosa,

sim.