O Som das Sextas – XXVII
No auge do Axé-Music, 1998, ano em que se elege aquele que viria a ser o mais truculento e incompetente des-Governador da Bahia em décadas, César Borges, o Axé-System sofreu seu maior revés: a música que levou prêmio de melhor daquele carnaval, e era bola cantada desde antes, não era um “ritmo bahiano” de origem; não tinha jabá por trás nem era por isso um pagodão ligado às classes populares menos reflexivas; era politizado sem ser explícito; seu autor não apenas saia num trio sem corda (e sem financiamento estatal) como era o último da fila do ainda “circuito alternativo Barra-Ondina” – e só saia nos dias nobres em que este circuito estaria esvaziado porque o do Campo Grande estaria cheio.
Estou falando de um tempo em que camarote não era boate cuja entrada custa R$200,00 e de onde não se vê a folia da rua – nessa época, camarote era para as famílias que as compravam no Campo Grande, e meu pai tinha um (quer dizer: o Axé-System não tinha chegado a sua total capacidade de espoliar a cidade); no camarote do governador (que era, então, Paulo Souto no fim de seu primeiro mandato) estava o homenageado daquele ano: um Jorge Amado ainda vivo e lúcido.
A canção de que falo não pregava o beijo na boca, o sexo fácil, ou a porradaria chicreteira. Era aliás tão lenta que quase não dava pra dançar – e ainda assim arrastava multidões no raiar do dia do Farol até Ondina. Era um reggae, rutz – que nem vinha da capital, mas de Cachoeira (que na época não tinha a importância pregressa ou atual, abandonada que estava pelo poder central do estado).
Neste ano que se encerra, Sine Calmon e o Morrão Fumegante. Profetas, 12 anos atrás, do pós-Axé e da Reforma Cultural que então nem sonhávamos necessária, quiçá palpável. Para entrar 2011, peguem um trem do amor para Yerushalá – na mala não levem a dor, que nem cabe no trem…
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