Pedale Elegância
No último Panorama Coisa de Cinema (me refiro ao deste ano, 2010, e não a esse, de 2009), fui ver um filme de Eric Rohmer ás 17h e 45min, e outro de Akira Kurosawa às 20h e 30min. O de Rohmer acabava às 19h.
Às 19h e 15min eu sai do Glauber Rocha Artplex (Praça Castro Alves) para comer algo no Café novo do Museu Rodin, na Graça. Em 15min eu estava dentro do Rodin, com a bike do lado, deitado no sofazão lindo do jardim de lá.
Saí de lá às 20h e 15min, e às 20h e 25min eu estava dentro do Glauber Rocha novamente, sem pressa, sem suar.
Pra quem não é de Salvador, isso dá uns 4km, entre o núcleo duro do Centro Histórico – o Portão d’Ajuda, uma das entradas do Pelourinho – e a borda do Centro Expandido – o elegantérrimo bairro da Graça, projeto de Mario Leal Ferreira e Diógenes Rebouças, dois dos maiores urbanistas que o hemisfério sul já produziu. Isso por cima das montanhas, a menos de 300m horizontais de distância do mar da baía de Todos os Santos. É um platô de 100m de altitude, com pequenos e suaves aclives e declives.
Este é o tipo de deslocamento, charmoso, que você só faz de bicicleta, bem urbana. Mesmo que houvesse um Bonde VLT entre a Castro Alves e o Largo da Graça você dificilmente sairia de um lugar ao outro para tomar um café e voltar em menos de hora e meia. O custo da passagem (mesmo que fosse baixo) e o fato de que o deslocamento em si não seria uma atividade lúdica (bicicleta é, também, um brinquedo) te fariam desistir…
Curiosamente, talvez de Elevador e Plano Inclinado se fizesse isso: sair do Pelô para tomar café no Comércio e voltar. Mas porque a viagem de ascensor urbano custa R$0,15 (quinze centavos) e demora entre compra de bilhete, embarque, transito e desembarque, 45 segundos. E porque, vertical em escarpa, a bicicleta aí é inútil; e a vista, no embarque do Lacerda ou em toda a descida e subida do Gonçalves, é deslumbrante!
De bicicleta, o Centro Antigo de Salvador vira um “playground de adulto”. Deslocar-se nele 4km, apenas para um lanche, se torna mais do que possível – se torna um apelo desejante dificil de conseguir não ceder. Salvador vira um doce, um quindin, aonde se mergulha com vontade, e a gente se lambusa. É este o sentido de, mais do que fazer um Plano Cicloviário para a região, estimular com propaganda o uso de bicicleta alí (mesmo sem plano cicloviário, bicicletário ou ciclofaixa alguma!).
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É baseado nisso que desenvolvemos o selo acima, Pedale Elegância, para ser atribuído a empresas, instituições, lojas, cafés, restaurantes, que recebam bem que vai até elas de bicicleta. Pode ser porque eliminam vaga de carro (como o Preto) para dar mais espaço às pessoas; pode ser porque, apesar das limitações físicas (o Café do Rodin, que tem as catracas na entrada do Museu), se esforça para receber bem quem preferiu atravessar bairros inteiros para ir lá tocando-os e vivendo-os, e não dentro da bolha de metal e vidro, excluíndo-se deles.
O Selo Pedale Elegância segue três graus. O acima é o grau 1, atribuível a qualquer instituição que tenha eliminado área para carro ou receba socialmente bem o usuário de bicicleta. O grau 2 é este abaixo, em dourado, para as instituições que tomaram além de uma destas, outras medidas concretas para atrair especialmente o público que usa este modal de transporte – pode ser porque recebe socialmente bem o ciclista & elimina vaga de carro; pode ser porque eliminou vaga de carro e construiu um bicicletário bem visível.
Aviso que Green-Washing como o Ciranda Café não receberão selo de qualidade: há um bicicletário lá, só que mequetrefe e escondido sobre um mar de carros que ocupam a calçada; uma das donas usa bicicleta como meio de transporte, mas não posso entrar no restaurante portando uma dobrável, devidamente dobrada, sem que venha alguém reclamar, às vezes com o argumento de que ali é um “lugar elegante demais para ter bicicletas a mostra”. E desde quando Dahons não são elegantes?! Lá o uso de bicicleta até existe, e é estimulado, mas sob um véu de vergonha – como se carro individual, essa coisa cafonérrima como antena de televisão, é que fosse chic.
Qualquer instituição que queira ter o selo de qualidade atribuído, basta entrar em contato e iremos lá avaliar. Paralelo a isso, escolheremos instituições ao nosso gosto, e por iniciativa própria, para tal – como os já citados Preto e o Café do Rodin. Nestes casos, qualquer que seja a avaliação – e mesmo que nenhum selo de qualidade seja atribuído – a instituição se compromete a manter exposto este cartaz abaixo, que funciona como selo grau 0.
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Esta semana acontece a primeira Bicicletada Nagô de Salvador. Movimento de reivindicação política conhecido em inglês como “Massa Crítica”, já vem acontecendo em outras metrópoles do país, como São Paulo, e mesmo em capitais menores, como Aracajú. Salvador, empestiada de “grupos de ciclistas” que nada mais são que gente fóbica, usuário de carro, que acha que bicicleta é esporte pra lazer de fim de semana, teve apenas tentativas fracassadas de Bicicletadas até agora.
Destas vez parece que vai. Ocorre no mundo todo sempre na última sexta-feira do mês, saindo de um ponto crítico da cidade, na hora do rush. A primeira de Salvador ocorre dia 24 de setembro, se reunindo a partir das 18h sempre na praça que fica entre o Iguatemi, a sede da Igreja Universal e a Rodoviária, que vem de ser o ponto da cidade por onde passa 40% dos deslocamentos de gentes e veículos. A organização tem sido bastante horizontal, e mais do que democrática – saudavelmente anárquica. Como tem de ser. E por isso mesmo se conseguiu uma divulgação vasta, profunda e aguda – saindo inclusive na conservadora (e carrófila) Globo FM de Salvador.
Quem quiser divulgar, é só me pedir por comentário o release e o PDF com a imagem acima (4 por folha de ofício, em preto&branco, baratinha de imprimir, cortar e distribuir), que envio por email.
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