Ocupationtion que não foi & outras Gentrifications
Seguem aqui várias pequenas notícias urbanas de interesse.
Primeira é que o pessoal da Faculdade de Arquitetura da UFBA se propôs a fazer uma ocupação urbana na Avenida ACM, no Itaigara, que vem sendo sempre interditada para obras de macrodrenagem (e consequente retirada de árvores decanas que garantiam a microdrenagem e o sombreamento da área, mas isso é assunto pra outro Salvador, capital Oslo), conforme avisa flyer abaixo.
A ameaca de chuva não deixou ninguém ir. Valeu, contudo, a intensão. Soube que ela adveio do fato de que alguns estudantes ocuparam o espaço no sábado anterior, e resolveram fazer disso um movimento maior, mais político e mais organizado. Valeu pela tentativa, e que surjam outras.
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O Semeando Livros ganhou selo próprio. Estava ficando cansado de escrever (e minha caligrafia, como notaram, é a de um disgráfico neurologicamente diagnosticado), o que diminuia o ritmo do book-crossing. Ficou legal e fortalece a identidade visual desta budega (e planejamentos que esta identidade visual cresça mais do que se supõe até o Carnaval). Abaixo pode-se ver como ficou.
Quem quiser usá-lo em seu próprio book-crossing basta pedir o arquivo em formato A4, PDF, com 12 selos como esse, através de comentários neste post, e eu envio por email. Daí leva o arquivo numa gráfica e imprime – colorido ou preto&branco, como queiram. Atenção: tem de pedir que se impra em papel adesivo, e de preferência que se refile lá mesmo, já que é muito estreito o intervalo entre os selos para ser cortado em casa com tesoura por não-profissionais. Uma vez pronto, cola-se na capa do livro ou revista, que passa assim a ser “timbrada” como um bem coletivo, com suas regras de uso bem explícitas. A folha com doze selos fica mais ou menos como essa abaixo:
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O processo de Gentrificationtion do Itaigara continua a passos largos. Em frente ao Preto, descobri o Munick Boteco Gourmet. O nome é pretencioso, o lugar não passa de um galpão e a frequência é maurícia. Ainda assim é digno de nota por ter um cardápio amplo e variado (embora confuso e caótico) de boas cervejas (devidamente caras, porque barato é mijo com gás e álcool, gelado ou nem tanto, da AMBEV e da Schin) – inclusive a nova, mas já lendária, Bock Abadia (da garrafa opaca como da sua irmã mais velha, cerveja rigorosamente vincentina belga, a Ale Confraria da Bohemia); inclusive a Strong Golden Ale da Bohemia, que é a Royal. Inclusive a Paulistânia, de São Paulo.
Só por isso já vale a visita. E pra completar, sem nenhuma vaga para automóvel (embora tenha manobrista).
Além disso, notícia nem tão nova: a Cantina Volpi, tradicional há duas décadas no Chame-Chame & Barra-Avenida / Ondina, abriu filiam no Caminho das Árvores / Pituba. Só isso poderia ser uma boa notícia (embora pudesse ser ruim, como o Bella Napoli, que era uma verdadeira instituição bahiana quando tinha cara de cantina de cortiço palermitano e ficava no centrão, Calçadão de São Pedro, e quando foi pros arrabaldes do Itaigara ficou bregamente metido a chique). Mas vai além: a Volpi optou por um modelo de ocupação que mantem a relação com a rua de modo direto, vazando os espaços de dentro para os de fora e favorecendo francamente o pedestre. Veja abaixo.
Mas não é só: as vagas de estacionamento, embora existam e sejam meia-dúzia, ficam num lugar escondido e mal-localizado, sem impedir a relação do espaço interno privado com o espaço externo público da rua:
A cereja do bolo vem agora: em frente ao estabelecimento, numa área totalmente aberta e usada pelos estudantes do Colégio Oficina (próximo) mesmo quando a pizzaria está fechada, fez-se uma pequena praça, aproveitando-se as árvores já existentes, com um jardim de sisaleiras ao modo de Burle Max e bancos a vontade, embora o espaço seja exíguo. É evidente que se fez isso para que os clientes esperem em momentos de casa cheia; mas que adorável efeito colateral de gentileza urbana isso tem (seguramente atraindo clientes que de outra forma nem lá iriam, como eu):
Por último, mas não por fim, o espaço é decorado com fotos da Salvador dos anos 1960. Do seu Centro Antigo, do Elevador Lacerda, do Porto da Barra em dia de domingo, do Forte de Mont-Serrat em Pedra Furada (Cidade Baixa). Que outro estabelecimento da Pituba prefere se referir a Salvador da Avant Gard, e não a uma Nova York caricata, a uma Miami de muambeiros?
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