Ainda sobre Literatura & intervenções urbanas
Semana passada, quarta-feira, fui na Fundação Municipal Mario Leal Ferreira, a convite deles, ver as mudanças que efetuaram no projeto da ciclofaixa da Avenida Sete de Setembro. Antes ia ser uma ciclovia segregada sobre a calçada – erro total numa avenida que não chega a 50km/h de velocidade, trecho curto (4km de ponta a ponta), etc. Seria desperdiçar a chance de, através deste trecho, educar na prática os motoristas a compartilharem espaço com as bicicletas.
Mudou-se para a solução em faixa azul, sem segregação, a partir do Esboço para um Plano Cicloviário do Centro Antigo de Salvador, que fiz a pedido do Escritório de Referência do Centro Antigo (ERCAS) da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Desde que o entreguei, em abril, viemos realizando reuniões quinzenais lá, a fim de alinhar outros projetos já existentes (tendo em vista que o meu não é um desenho arquitetônico, sendo muito mais um registro de indicações programáticas feitas por um usuário leigo). Foi a partir de tais reuniões que a Fundação Mario Leal repensou seu projeto, reduzindo custos e tornando-o mais eficiente e exequível.
O projeto da ciclofaixa na Avenida Sete é parte da retirada de vagas de veículos automotores da área. Para isso, passará a existir um edifício-garagem nos Barris, abrindo numa prala arborizada para pedestres que leva até a entrada do Shopping Piedade. Este estacionamento da conta de todas as vagas já existentes na Avenida Sete, mais um-terço deste número. Ou seja: dá e sobra! Com o espaço ganho dos carros, a calçada vai ser alargada, de cada lado da via, em quase 1m.
Os motoristas de buzú vão vibrar – eles que vociferam diariamente contra gente estacionando e saindo de vaga naquela área, atrasando suas viagens de trabalho. No longo, prazo, se pretende que volte a ter bondes lá, eliminando também os ônibus de lá.
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No mesmo sentido, segunda-feira última nos reunimos na Fundação Pedro Calmon (órgão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia) para discutirmos política de livros e de leitura. O convite foi feito por causa das idéias publicadas aqui sobre a relação entre direito a leitura, direito a cidade, e mobilidade.
E no início de agosto vamos ver como ficaram os bicicletários dos terminais de trem do subúrbio ferroviário, a partir de um convite de servidores municipais da área, com quem travo contato regularmente no Grupo de Trabalho em Mobilidade e Acessibilidade – que apesar de ser do Conselho Regional de Arquitetura, não é composto só por arquitetos e engenheiros, e tem uma presença significativa da sociedade civil leiga, como eu.
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Definitivamente, este é o ano do Último Baile participar mais ativamente da cidade. Além desta intervenção aí linkada, e das aqui descritas, devem surgir outras.
Além disso, fiquei com o segundo lugar na categoria poesia do XXXIII Prêmio Felippe D’Oliveira, em Santa Maria (RS). Ganha o que? Um abraço de Tarso Genro, se der, e olhe lá! O prêmio em dinheiro, robusto, vale apenas para o primeiro colocado.
O poema premiado, eu fiz aos 17 anos de idade. Lembro do dia. Meu pai morava na Princesa Isabel, eu tinha ido até o Porto da Barra andando comprar um exemplar da Revista Cult (quando prestava, e existiam a Revista República e a Revista Bravo! era excelente e era da extinta D’Ávila Editora). Ai ao folhear a Cult, desisti de comprar: achei os poetas xôxos, a idéia de economia do verso levada a uma dimensão paroxistica que tornava-os ao mesmo tempo sem significação, e de difícil compreensão.
Pareceu-me que a poesia contemporanea, que com Maiakovisky, Cabral, e cummings, buscou tanto ser um “direito de todos” e ser “industria” havia virado um subproduto, algo como bolsas de garrafa PET reciclada. Era uma poesia anorexica como o cinema de entao (Matrix e outras tranqueiras); os poetas estavam de dieta:
Poesia Contemporânea
.
A palavra
Solta
É a ordem
Do dia
.
Versos
Com frases
Inteiras
Não enchem
Barriga
.
Uma palavra
Apenas
Por verso
(o verso
é o prato
e a palavra
comida):
os poetas
estão de dieta.
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