O bonde que Imbassahy perdeu (ou: existe uma ‘esquerda carlista’?)
Dos candidatos a prefeitura de Salvador este ano, Imbassahy (PSDB) parecia ser o mais promissor antes da campanha começar, e mesmo durante e logo depois do primeiro debate na TV. Pela primeira vez em muito tempo o PSDB bahiano (em nada parecido com o de São Paulo, não é neoliberal e é aliado estratégico do PT, aqui, há duas décadas, contra o carlismo) saía com um candidato viável. Embora o último egresso do carlismo, Imbassahy era apontado desde sempre como uma ovelha negra mesmo quando fazia parte do PFL – era do que se dizia ser a esquera cooptada pelo carlismo. ACM de fato fazia isso: atraia para próximo de si excelentes técnicos originalmente de esquerda – Lelé foi, durante algum tempo, um deles.
Mais do que isso, Imbassahy representava uma candidatura aliada, mas não alinhada automaticamente, ao Governo Wagner (que sem o apoio de Jutahy Júnior não teria se elegido, e ele não cansa de reconhecer), e respeitadora ao Governo Lula desde quando foi prefeito pelo PFL. Para tal, contava com o apoio de uma verdadeira unanimidade nada burra (numa terra em que nem acarajé e carurú são unanimidades) na política bahiana democrática: Professor Doutor, ex-Magnífico Reitor, Roberto Santos. Filho do gênio que criou a UFBA, Edgar Santos, Roberto foi o único governador da Bahia pelo MDB durante o Regime Militar.
Roberto Santos é um social-democrata ao modo europeu: sobretudo um estadista. Ele, junto com um tom moderado e polido por parte de Imbassahy (ao modo talvez de Aécio Neves), poderia ter engendrado uma campanha brilhante e um governo da terceira capital do país que apontaria para o fim do impasse paralisante PSDB X PT.
Mas, Imbassahy, literalmente, perdeu o bonde. A idéia do bonde moderno, que Pinhiero lançou, era a cara de Imbassahy (transporte moderno e sem pobrismo), do PSDB bahiano (estado presente, mas leve) e de Roberto Santos. Imbassa deixou passar, e ficou insistindo na idéia mais do que caduca de “melhorar ônibus”. Ônibus apenas?! Na terceira maior cidade do país?! E já de si complexa, pela ocupação quadri-secular, pelas montanhas ocupadas no topo, pela península e pela maior baía do hemisferio sul deste planeta?
Insistir no VLT (bonde) poderia ser um ponto de conciliação (ou não-agressão) dele com o radialista e ex-prefeito Mário Kertzs. Compadre de João Filgueiras Lima, e também ele ex-carlista, Mário poderia abraçar ao menos essa idéia (como abraçou hoje, mesmo tendo sido lançada pelo PT – Mário tem clara preferência hoje por Grampinho ou João Henrique), embora o atacasse em outras.
Não bastasse isso, o revide de Imbassa a oposição que lhe é feita por Mário foi autoritária, com odores de um carlismo que nada tem a ver com o PSDB ou com Dr. Roberto Santos: proibiu judicialmente o radialista de citar seu nome. Resultado: Kértzs continua a atingi-lo, e ainda o chama de “O Inominável” (desde que pode falar dele, sem citar nome). Alguém realmente democrático, e europeizado, pediria diversos e diversos direitos de resposta, até enxer o saco da emissora de rádio – mas não impediria ninguém do livre exercício de sua fala e idéias.
Junte-se ainda uma propaganda eleitoral populista, sem propostas claras, e a mistura é explosiva! No primeiro debate, até na pergunta de Walter Pinheiro (PT) ele se saiu bem. Pinheiro lhe perguntou como ele poderia garantir que já não mais era carlista, e ele lembrou a história de que ele nunca compactuou com Toninho Malvadeza, e que na verdade foi atraido para esta área como um jóvem técnico promissor, o que era comum com outros egressos do carlismo – e o que é a mais pura verdade, como soube depois através de conhecidos em comum.
Mas esta imagem cordata, moderna e diplomática se inverteu e ele ficou com a pecha de “o mais legítimo herdeiro do carlismo” (mais do que Grampinho), capaz até mesmo de PFLizar o imPFLizável PSDB bahiano de Jutahyzinho e Nestor Duarte. Não admira que tenha despencado nas pesquisas…
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