A volta por cima de John Neschling
A notícia é velha, mas em tempo de pré-campanha eleitoral (seja lá o que isso for – é como dizer “carícias pré-sexuais”. Tem algo no sexo antes do sexo que não é sexo?) vale reler:
O Brasil vai ter uma companhia de ópera itinerante, a Companhia Brasileira de Ópera, projeto criado pelo maestro John Neschling, que recentemente deixou o comando da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).
Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, no Entrevista Record, que foi ao ar pela Record News, na noite de terça-feira, Neschling conta que a proposta, surgida no início deste ano, é uma continuidade do trabalho que desenvolveu na Osesp: produzir música de qualidade ao alcance de todos.
Veja abaixo alguns pontos abordados por Neschling na entrevista:.
– Comecei pelo “Barbeiro de Sevilha”, que é uma ópera relativamente fácil, que pode ser produzida com uma orquestra pequena.
– Propus ao Ministério da Cultura levar o Barbeiro de Sevilha a cinco ou seis cidades. Mas o ministro da Cultura, Juca Ferreira, sugeriu ampliar a proposta, para atingir mais cidades, inclusive as que nunca viram uma ópera.
– Resolvemos criar uma companhia, na qual cantores, músicos, cenógrafos, etc. tem rendimento fixo – não é uma coisa que faz uma produção só e depois acaba.
– Decidimos começar com o Barbeiro de Sevilha em 20 cidades. Haverá uma média de cinco a 10 récitas por cidade. Com isso chegaremos a um número total de 105 récitas.
· É uma coisa inédita: “nunca antes na história deste país” houve uma companhia de ópera que atuasse no país inteiro.
· Vamos nos apresentar de Manaus a Porto Alegre, começando por Brasília, no dia 21 de abril, aniversário de Brasília.
– A idéia é que daqui a alguns anos tenhamos dois ou três espetáculos correndo o Brasil, de forma a criar um circuito nacional de ópera.
– Teremos uma série de cantores que terão como viver dignamente da ópera.
· O ingresso é quatro vezes mais barato do que o da Osesp.
· Teremos uma orquestra pequena para o Barbeiro, de 28 músicos. Mas queremos chegar a 60 músicos.
– O “Barbeiro” será montado com um desenho animado, produzido na Itália, que vai interagir com cantores ao vivo.
– A sede da companhia será em São Paulo. O orçamento do primeiro ano será de R$ 14 milhões. Teremos apoio do Ministério da Cultura para captar patrocínio e vamos atingir mais de 140 mil pessoas em seu primeiro ano, público que supera o da Osesp.
– Os cantores não serão funcionários públicos.
. Neschling denuncia a situação deplorável do maravilhoso prédio do Teatro Municipal de São Paulo – um monumento à inépcia de sucessivos governos tucanos (PHA). Se os profissionais e amantes da música, diz o Neschling, não reagirem, o Teatro Municipal de São Paulo fecha para sempre. Não vai servir nem para festa de debutante.Ouça a íntegra da entrevista com o maestro John Neschling
A OSESP talvez tenha sido o grande feito do tucanato paulista em toda a sua história. Um patrimônio brasileiro não apenas em si, e sim em efeito cascata: outros estados, com governos de outros partidos, começaram a achar importante e possível ter orquestras sinfônicas dignas. E aí o Mato Grosso refez a sua, a Bahia fez a OSBA como ela é hoje (capaz de executar um Brahms límpido, heráldico, cristalino desde seu primeiro acorde, no Mozart nas Igrejas desse mês) e o Neojibá; a Petrobrás entrou de cabeça na revitalização de sua sinfônica; Minas investiu nas pequenas cameratas de cidade do interior.
José Serra é capaz de depredar o patrimônio que seu próprio partido construiu em seu próprio estado!
Azar o dele: na campanha, Dilma poderá dizer que o Brasil terá uma Orquestra Nacional de Óperas; e Serra dirá que Sampa tinha a melhor orquestra do mundo, mas ele destruiu. É um gênio, esse rapaz!
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