Pior do que péssimo: inexistente!
Eu costumo achar o Jornal da Metrópole um panfleto geddelista, mentiroso e mal-elaborado, encabeçado por um interesseiro, Mario Kertzs. Aliás eu só não: a Policia Civil também acha. Mas, as pessoas não são retilíneas – e além de caráter duvidoso, Mario Kertzs é também arguto e erudito, quando quer.
Foi o caso do Jornal da Metrópole do dia 05 de março deste ano, algumas semanas atrás. Todo voltado para mobilidade urbana, trata de bicicleta a bonde, de elevador urbano a buzu. Consistente, amplo, bem-escrito. Vale ler.
Destaco a entrevista com o urbanista Juan Pedro Moreno. Ele diz o que viemos dizendo aqui e alhures tem tempos: que o transporte de Salvador é integralmente complementar, sem nenhum transporte central de massas (daí o título deste post); que o gargalo é vertical e precisa portanto de soluções verticais; que usar combustível pra ônibus na cidade com segunda maior incidência solar do globo é obsceno; que a Paralela gerará uma carrodependência não apenas drogadicta, mas crackômana, com seus LeParcs, etc. Confira trechos abaixo:
e pessoas saudáveis transitemao mesmo tempo sem dificulda-des. Segundo a arquiteta e coor-denadora do programa de aces-sibilidade da ONG Vida Brasil,Islândia Costa, a Lapa é a esta-ção mais atrasada em termos deinfraestrutura.“As estações de Mussurungae Pirajá são mais novas e têm es-trutura melhor, mas estão distan-tes do ideal. Já a Lapa, uma dasmais importantes da cidade, comcerca de 400 mil pessoas pas-sando por dia, é completamentedesprovida de acessibilidade. Atemperatura é insuportável, nãotem pista tátil, não há acessopara cadeirantes nas escadas ro-lantes, a iluminação é péssima enão há diferenciação de cor nasextremidades dos degraus dasescadarias, prejudicando quemtem baixa visão e idosos. E a úni-ca escada rolante que dá acesso àAvenida Joana Angélica funcio-na em um sentido só e vive que-brada”, explica Islândia.Para a presidente da Associa-ção Baiana de Deficientes Físicos(Abadef) e cadeirante, Luíza Câ-mara, é impossível um deficientelocomover-se na maior estaçãode transbordo de Salvador. “ALapa é a arquitetura do equívo-co. A inclusão sofre um atentadoaqui. Não existe o direito de in-clusão quando não existe o direi-to de ir e vir, quando este direito éviolentado diariamente. Vivemosuma exclusão social, uma exclu-são de direitos. Este é o nosso co-Jornal da Metrópole – Salva-dor está muito atrasada no se-tor de transportes?Juan Pedro Moreno – Não te-mos transporte de massa emSalvador. Temos um sistema deônibus de meia capacidade. Es-pero que o metrô seja a base dosistema integrado de transportea curto prazo.JM – Quais as deficiências?JPM – Primeiro, a cidade insisteem ter um sistema rodoviáriopara o transporte público. E oônibus não é considerado siste-ma de massa. Não tem capaci-dade, e, por isso, os problemasde oferta, com veículos lotadostodos os dias. A baixa qualidadeé crônica e, a cada ano, piora. Osegundo problema é afalta de integração.O ônibus nãoestá integradocom nada. O ter-ceiro problema éa microacessibi-lidade. Não existeem Salvadorqualquer plano associado ao pe-destre. Ladeiras íngremes, calça-das sem manutenção, escadariasimensas e com estruturas paradeficientes não contempladas.Existe um descuido em termosde planejamento de transportes.Há mais de 20 anos não temosinvestimentos no setor.JM – Quais as soluções?JPM – O transporte vertical éuma delas. Elevadores e planosinclinados transportam muitaspessoas e integram a CidadeAlta à Cidade Baixa. Com eles,poderíamos acessar o metrô ououtros transportes. Os elevado-res são mais econômicos e sus-tentáveis em termos ambientais.São elétricos ou hidráulicos. Écaro investir somente em ôni-bus em uma cidade comrelevo tão difícil. Queima-se muito combustível.JM – O VLT é uma solu-ção?JPM – O VLTfornecevelocidade e capacidade. É umasolução ambientalmente maispositiva. O governo já teve umaproposta para implantar essesistema, mas optaram pelos cor-redores de ônibus.JM – E o que o senhor acha dis-so?JPM – Ecologicamente, não éuma boa solução. O VLT é elé-trico, e o BRT consumirá muitocombustível, devido à topogra-fia. Outro problema é que, maisuma vez, será um transporte quenão passará pelas áreas maisdensas da cidade, como Caza-jeiras, São Caetano e a AvenidaSuburbana. Passando pela Pa-ralela, encontrará o público dosgrandes condomínios que nãodeixará o carro em casa.JM – Como o senhor avalia oprojeto do metrô ?JPM – O metrô tem dois pro-blemas. O primeiro é o de ma-croacessibilidade, porque nãoliga grandes áreas densas, eessa é a função do transporte demassa. Colocaram o metrô nomeio do nada. O grande desafioé integrá-lo ao sistema ou nãoadiantará nada. E a microacessi-bilidade, porque não há aces-sibilidade para o pedestre.JM – O modelo de tremque temos é adequa-do ?JPM – Em todas asdestre. Ladeiras íngremes, calça-das sem manutenção, escadariasimensas e com estruturas paradeficientes não contempladas.Existe um descuido em termosde planejamento de transportes.Há mais de 20 anos não temosinvestimentos no setor.JM – Quais as soluções?JPM – O transporte vertical éuma delas. Elevadores e planosinclinados transportam muitaspessoas e integram a CidadeAlta à Cidade Baixa. Com eles,poderíamos acessar o metrô ououtros transportes. Os elevado-res são mais econômicos e sus-tentáveis em termos ambientais.São elétricos ou hidráulicos. Écaro investir somente em ôni-bus em uma cidade comrelevo tão difícil. Queima-se muito combustível.JM – O VLT é uma solu-ção?JPM – O VLTfornecegrandes cidades do mundo, otrem é fundamental. O ideal se-ria investir e modernizar o tremdo subúrbio, pois é uma dasáreas mais densas e mais esque-cidas em termos de transporte.Ele precisa chegar ao centroda cidade. É uma solução quenão está sendo aproveitada. Asempresas de transporte devemevoluir, como em todo o mun-do, para sistema de mobilidade,deixando de apenas transportarpessoas para oferecer um con-junto de serviços que faça comque a população deixe o carroem casa. Aqui, acontece o opos-to. Existe uma taxa alarmante deuso do carro, que satura as vias.JM – Aqui não há ciclovias…JPM – É um erro. Em paísesmais desenvolvidos, a bicicletaé considerada transporte públi-co e não meio de lazer.JM – Existe alguma capitalbrasileira que é referência?JPM – Muitas apresentaramboas soluções. O sistema de SãoPaulo é amplo e complexo; noRio de Janeiro tem um metrôcompleto; em Recife, o metrôfunciona bem; em Aracaju, temciclovias e ciclofaixas; e o sultambém é exemplo que podeser copiado porque tem geren-ciamento. Acho que o problemaem Salvador é a falta de vontadepolítica e da participação maisativa da população.Jornal da Metrópole – Salvador está muito atrasada no setor de transportes?
Juan Pedro Moreno – Não temos transporte de massa em Salvador. Temos um sistema de ônibus de meia capacidade. Espero que o metrô seja a base do sistema integrado de transporte a curto prazo.
JM – Quais as deficiências?
JPM – Primeiro, a cidade insiste em ter um sistema rodoviário para o transporte público. E o ônibus não é considerado sistema de massa. Não tem capacidade, e, por isso, os problemas de oferta, com veículos lotados todos os dias. A baixa qualidade é crônica e, a cada ano, piora. O segundo problema é a falta de integração. O ônibus não está integrado com nada. O terceiro problema é a microacessibilidade. Não existe em Salvador qualquer plano associado ao pedestre. Ladeiras íngremes, calçadas sem manutenção, escadarias imensas e com estruturas para deficientes não contempladas. Existe um descuido em termos de planejamento de transportes. Há mais de 20 anos não temos investimentos no setor.
JM – Quais as soluções?
JPM – O transporte vertical é uma delas. Elevadores e planos inclinados transportam muitas pessoas e integram a Cidade Alta à Cidade Baixa. Com eles, poderíamos acessar o metrô ou outros transportes. Os elevadores são mais econômicos e sustentáveis em termos ambientais. São elétricos ou hidráulicos. É caro investir somente em ônibus em uma cidade com relevo tão difícil. Queima-se muito combustível.
JM – O VLT é uma solução?
JPM – O VLT fornece velocidade e capacidade. É uma solução ambientalmente mais positiva. O governo já teve uma proposta para implantar esse sistema, mas optaram pelos corredores de ônibus.
JM – E o que o senhor acha disso?
JPM – Ecologicamente, não é uma boa solução. O VLT é elétrico, e o BRT consumirá muito combustível, devido à topografia. Outro problema é que, mais uma vez, será um transporte que não passará pelas áreas mais densas da cidade, como Cazajeiras, São Caetano e a Avenida Suburbana. Passando pela Paralela, encontrará o público dos grandes condomínios que não deixará o carro em casa.
JM – Como o senhor avalia o projeto do metrô ?
JPM – O metrô tem dois problemas. O primeiro é o de macroacessibilidade, porque não liga grandes áreas densas, e essa é a função do transporte de massa. Colocaram o metrô no meio do nada. O grande desafio é integrá-lo ao sistema ou não adiantará nada. E a microacessibilidade, porque não há acessibilidade para o pedestre.
(…)
JM – Existe alguma capital brasileira que é referência?
JPM – Muitas apresentaram boas soluções. O sistema de São Paulo é amplo e complexo; no Rio de Janeiro tem um metrô completo; em Recife, o metrô funciona bem; em Aracaju, tem ciclovias e ciclofaixas; e o sul também é exemplo que pode ser copiado porque tem gerenciamento. Acho que o problema em Salvador é a falta de vontade política e da participação mais ativa da população.
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