Pior do que péssimo: inexistente!

22/03/2010 at 21:03

buzuEu costumo achar o Jornal da Metrópole um panfleto geddelista, mentiroso e mal-elaborado, encabeçado por um interesseiro, Mario Kertzs. Aliás eu só não: a Policia Civil também acha. Mas, as pessoas não são retilíneas – e além de caráter duvidoso, Mario Kertzs é também arguto e erudito, quando quer.

Foi o caso do Jornal da Metrópole do dia 05 de março deste ano, algumas semanas atrás. Todo voltado para mobilidade urbana, trata de bicicleta a bonde, de elevador urbano a buzu. Consistente, amplo, bem-escrito. Vale ler.

Destaco a entrevista com o urbanista Juan Pedro Moreno. Ele diz o que viemos dizendo aqui e alhures tem tempos: que o transporte de Salvador é integralmente complementar, sem nenhum transporte central de massas (daí o título deste post); que o gargalo é vertical e precisa portanto de soluções verticais; que usar combustível pra ônibus na cidade com segunda maior incidência solar do globo é obsceno; que a Paralela gerará uma carrodependência não apenas drogadicta, mas crackômana, com seus LeParcs, etc. Confira trechos abaixo:

e pessoas saudáveis transitem
ao mesmo tempo sem dificulda-
des. Segundo a arquiteta e coor-
denadora do programa de aces-
sibilidade da ONG Vida Brasil,
Islândia Costa, a Lapa é a esta-
ção mais atrasada em termos de
infraestrutura.
“As estações de Mussurunga
e Pirajá são mais novas e têm es-
trutura melhor, mas estão distan-
tes do ideal. Já a Lapa, uma das
mais importantes da cidade, com
cerca de 400 mil pessoas pas-
sando por dia, é completamente
desprovida de acessibilidade. A
temperatura é insuportável, não
tem pista tátil, não há acesso
para cadeirantes nas escadas ro-
lantes, a iluminação é péssima e
não há diferenciação de cor nas
extremidades dos degraus das
escadarias, prejudicando quem
tem baixa visão e idosos. E a úni-
ca escada rolante que dá acesso à
Avenida Joana Angélica funcio-
na em um sentido só e vive que-
brada”, explica Islândia.
Para a presidente da Associa-
ção Baiana de Deficientes Físicos
(Abadef) e cadeirante, Luíza Câ-
mara, é impossível um deficiente
locomover-se na maior estação
de transbordo de Salvador. “A
Lapa é a arquitetura do equívo-
co. A inclusão sofre um atentado
aqui. Não existe o direito de in-
clusão quando não existe o direi-
to de ir e vir, quando este direito é
violentado diariamente. Vivemos
uma exclusão social, uma exclu-
são de direitos. Este é o nosso co-
Jornal da Metrópole – Salva-
dor está muito atrasada no se-
tor de transportes?
Juan Pedro Moreno – Não te-
mos transporte de massa em
Salvador. Temos um sistema de
ônibus de meia capacidade. Es-
pero que o metrô seja a base do
sistema integrado de transporte
a curto prazo.
JM – Quais as deficiências?
JPM – Primeiro, a cidade insiste
em ter um sistema rodoviário
para o transporte público. E o
ônibus não é considerado siste-
ma de massa. Não tem capaci-
dade, e, por isso, os problemas
de oferta, com veículos lotados
todos os dias. A baixa qualidade
é crônica e, a cada ano, piora. O
segundo problema é a
falta de integração.
O ônibus não
está integrado
com nada. O ter-
ceiro problema é
a microacessibi-
lidade. Não existe
em Salvador
qualquer plano associado ao pe-
destre. Ladeiras íngremes, calça-
das sem manutenção, escadarias
imensas e com estruturas para
deficientes não contempladas.
Existe um descuido em termos
de planejamento de transportes.
Há mais de 20 anos não temos
investimentos no setor.
JM – Quais as soluções?
JPM – O transporte vertical é
uma delas. Elevadores e planos
inclinados transportam muitas
pessoas e integram a Cidade
Alta à Cidade Baixa. Com eles,
poderíamos acessar o metrô ou
outros transportes. Os elevado-
res são mais econômicos e sus-
tentáveis em termos ambientais.
São elétricos ou hidráulicos. É
caro investir somente em ôni-
bus em uma cidade com
relevo tão difícil. Queima-
se muito combustível.
JM – O VLT é uma solu-
ção?
JPM – O VLT
fornece
velocidade e capacidade. É uma
solução ambientalmente mais
positiva. O governo já teve uma
proposta para implantar esse
sistema, mas optaram pelos cor-
redores de ônibus.
JM – E o que o senhor acha dis-
so?
JPM – Ecologicamente, não é
uma boa solução. O VLT é elé-
trico, e o BRT consumirá muito
combustível, devido à topogra-
fia. Outro problema é que, mais
uma vez, será um transporte que
não passará pelas áreas mais
densas da cidade, como Caza-
jeiras, São Caetano e a Avenida
Suburbana. Passando pela Pa-
ralela, encontrará o público dos
grandes condomínios que não
deixará o carro em casa.
JM – Como o senhor avalia o
projeto do metrô ?
JPM – O metrô tem dois pro-
blemas. O primeiro é o de ma-
croacessibilidade, porque não
liga grandes áreas densas, e
essa é a função do transporte de
massa. Colocaram o metrô no
meio do nada. O grande desafio
é integrá-lo ao sistema ou não
adiantará nada. E a microacessi-
bilidade, porque não há aces-
sibilidade para o pedestre.
JM – O modelo de trem
que temos é adequa-
do ?
JPM – Em todas as
destre. Ladeiras íngremes, calça-
das sem manutenção, escadarias
imensas e com estruturas para
deficientes não contempladas.
Existe um descuido em termos
de planejamento de transportes.
Há mais de 20 anos não temos
investimentos no setor.
JM – Quais as soluções?
JPM – O transporte vertical é
uma delas. Elevadores e planos
inclinados transportam muitas
pessoas e integram a Cidade
Alta à Cidade Baixa. Com eles,
poderíamos acessar o metrô ou
outros transportes. Os elevado-
res são mais econômicos e sus-
tentáveis em termos ambientais.
São elétricos ou hidráulicos. É
caro investir somente em ôni-
bus em uma cidade com
relevo tão difícil. Queima-
se muito combustível.
JM – O VLT é uma solu-
ção?
JPM – O VLT
fornece
grandes cidades do mundo, o
trem é fundamental. O ideal se-
ria investir e modernizar o trem
do subúrbio, pois é uma das
áreas mais densas e mais esque-
cidas em termos de transporte.
Ele precisa chegar ao centro
da cidade. É uma solução que
não está sendo aproveitada. As
empresas de transporte devem
evoluir, como em todo o mun-
do, para sistema de mobilidade,
deixando de apenas transportar
pessoas para oferecer um con-
junto de serviços que faça com
que a população deixe o carro
em casa. Aqui, acontece o opos-
to. Existe uma taxa alarmante de
uso do carro, que satura as vias.
JM – Aqui não há ciclovias…
JPM – É um erro. Em países
mais desenvolvidos, a bicicleta
é considerada transporte públi-
co e não meio de lazer.
JM – Existe alguma capital
brasileira que é referência?
JPM – Muitas apresentaram
boas soluções. O sistema de São
Paulo é amplo e complexo; no
Rio de Janeiro tem um metrô
completo; em Recife, o metrô
funciona bem; em Aracaju, tem
ciclovias e ciclofaixas; e o sul
também é exemplo que pode
ser copiado porque tem geren-
ciamento. Acho que o problema
em Salvador é a falta de vontade
política e da participação mais
ativa da população.

Jornal da Metrópole – Salvador está muito atrasada no setor de transportes?

Juan Pedro Moreno – Não temos transporte de massa em Salvador. Temos um sistema de ônibus de meia capacidade. Espero que o metrô seja a base do sistema integrado de transporte a curto prazo.

JM – Quais as deficiências?

JPM – Primeiro, a cidade insiste em ter um sistema rodoviário para o transporte público. E o ônibus não é considerado sistema de massa. Não tem capacidade, e, por isso, os problemas de oferta, com veículos lotados todos os dias. A baixa qualidade é crônica e, a cada ano, piora. O segundo problema é a falta de integração. O ônibus não está integrado com nada. O terceiro problema é a microacessibilidade. Não existe em Salvador qualquer plano associado ao pedestre. Ladeiras íngremes, calçadas sem manutenção, escadarias imensas e com estruturas para deficientes não contempladas. Existe um descuido em termos de planejamento de transportes. Há mais de 20 anos não temos investimentos no setor.

JM – Quais as soluções?

JPM – O transporte vertical é uma delas. Elevadores e planos inclinados transportam muitas pessoas e integram a Cidade Alta à Cidade Baixa. Com eles, poderíamos acessar o metrô ou outros transportes. Os elevadores são mais econômicos e sustentáveis em termos ambientais. São elétricos ou hidráulicos. É caro investir somente em ônibus em uma cidade com relevo tão difícil. Queima-se muito combustível.

JM – O VLT é uma solução?

JPM – O VLT fornece velocidade e capacidade. É uma solução ambientalmente mais positiva. O governo já teve uma proposta para implantar esse sistema, mas optaram pelos corredores de ônibus.

JM – E o que o senhor acha disso?

JPM – Ecologicamente, não é uma boa solução. O VLT é elétrico, e o BRT consumirá muito combustível, devido à topografia. Outro problema é que, mais uma vez, será um transporte que não passará pelas áreas mais densas da cidade, como Cazajeiras, São Caetano e a Avenida Suburbana. Passando pela Paralela, encontrará o público dos grandes condomínios que não deixará o carro em casa.

JM – Como o senhor avalia o projeto do metrô ?

JPM – O metrô tem dois problemas. O primeiro é o de macroacessibilidade, porque não liga grandes áreas densas, e essa é a função do transporte de massa. Colocaram o metrô no meio do nada. O grande desafio é integrá-lo ao sistema ou não adiantará nada. E a microacessibilidade, porque não há acessibilidade para o pedestre.

(…)

JM – Existe alguma capital brasileira que é referência?

JPM – Muitas apresentaram boas soluções. O sistema de São Paulo é amplo e complexo; no Rio de Janeiro tem um metrô completo; em Recife, o metrô funciona bem; em Aracaju, tem ciclovias e ciclofaixas; e o sul também é exemplo que pode ser copiado porque tem gerenciamento. Acho que o problema em Salvador é a falta de vontade política e da participação mais ativa da população.