Ivan, o terrível sepultador de rios
Embora Victor Hugo Soares seja talentosíssimo, correto eticamente, e cordato, ainda não inseriu seu blog nas hostes do anti-jornalismo. Ignora sistematicamente comentários de leitores. Frequenta pouco outros blogs. Não modera os comentários, cuja aprovação aliás é automática. Etc.
Por fim, dá vez e voz a figuras senis como Ivan de Carvalho:
Desde a “outorga” para a realização da obra [do canal do Imbuí], o Ingá vem impondo condições que têm criado à prefeitura dificuldades e perda de tempo em busca de soluções que atendam às exigências do órgão estadual, aparentemente preocupado em “salvar” uma meia dúzia de piabas e duas ou três sucuris que vivem ou viviam nas águas do esgoto e da lagoa à qual dá vazão. Aí exigiu três respiradouros! E levantou mais algumas questões pra impressionar quem acredita em Papai Noel.
Ah, o Ingá também salvaria os milhares de ratos, milhões de baratas e, talvez, uma centena de sapos que ainda conseguem sobreviver à água imunda e fedorenta com a qual a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) jamais manifestou preocupação, ainda que fosse em consideração à saúde e aos 80 mil a 100 mil narizes dos moradores do bairro e a milhares de outros que passam por lá em trânsito, pela Avenida Jorge Amado e adjacências.
No trecho acima, como se pode notar, Ivan de Carvalho omite dos seus leitores, e talvez de si próprio, o fato de que o Rio Cascão está em avançado estado de despoluição. Nacionalmente, só fica atrás do Rio das Velhas, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Ivan de Carvalho escreve no Tribuna da Bahia, que publicou coluna de Alex Ferraz sobre uso de bicicletas em cidade sem que o autor tenha a menor idéia do que falava. Ambos exercem o jornalismo com gáudio e fragor. Jornalismo, como se sabe, é a atividade de sistematicamente desinformar uma grande massa de pessoas que pagam por isso.
E jornalista é o sujeito que não sabendo nada sobre coisa alguma, acha que pode falar sobre absolutamente tudo. É a consagração do que Niemeyer chamava de “besteira dita com ar de coisa séria”.
Ivan, o terrível, continua:
Cumpre esclarecer outra vez – pois já fiz isto antes – que piabas e sucuris não são animais em extinção, da mesma forma que ratos, baratas e mosquitos de variadas espécies, especialmente muriçocas. E que não é o Ingá, mas o CRA, o órgão estadual responsável pela preservação de espécies em extinção.
O Ingá exige – e quer saber hoje da prefeitura e da construtora se isso está sendo obedecido – que as placas com as quais o rio-esgoto a céu aberto está sendo coberto e os equipamentos que transformação a área em espaço de lazer são removíveis. Para que sejam removidos quando as bacias de captação, as lagoas e o rio-esgoto forem resgatados à poluição absoluta em que estão. O que ocorrerá na década ou no século em que a Embasa resolver fazer isto.
Oh, Ivanzinho…! O Ingazinho não quer proteger as piabinhas não…
O Ingá quer proteger a população do Imbuí de uma instabilidade microclimática que a retirada de manaciais de água pode causar. Presença de água corrente impede ondas de calor e aumenta a brisa.
Acho graça: no governo César Borges se começou a despoluição do Dique do Tororó. Medida correta e louvável – ninguém falou mal. Como é o Ingá, de Jaques Wagner, num canal do Imbuí, tá errado. Certo está um Prefeito que não tem nenhum planejamento urbano para uma capital que ele trata como se fosse um entroncamento rodoviário com vista pro mar.
Mas, não se engane leitor, tudo pode piorar:
Ora, o Ingá deveria ter consciência de que quase tudo é removível. Se tanto a fé quanto as mineradoras removem montanhas, porque seriam eventualmente irremovíveis placas de concreto na cobertura do rio-esgoto e alguns quiosques de alvenaria construídos sobre elas? Informa o blog Por Escrito que o Ingá pediu e obteve do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura um laudo sobre o “caráter permanente ou temporário” da cobertura do rio. Ora, até o Céu e a Terra são temporários – “Passarão o céu a e Terra, mas as minhas palavras não passarão”, explicou Jesus (e Ele sabia mais do que Julio, ainda que fosse o Caesar e não o Rocha).
Bem, quando é que o Ingá vai exigir que seja removida a cobertura do Rio das Tripas, que corre sob a Baixa dos Sapateiros? Será que, depois de tantas décadas ainda.
Para-além do argumento acaciano do “tudo é removível” (não se trata apenas de remover as placas de concreto, mas de remover com facilidade; e de serem transparentes porque luz do sol ajuda a recuperar vida vegetal e animal de rios, e permite que se veja, de fora, se a vida voltou a existir), e do apelo a “sabedoria do cristianismo” (sabedoria, como se sabe, escravocrata e masoquista), fiquemos com o último parágrafo.
Falamos da despoluição do Dique do Tororó. Que recebe água do Rio das Tripas sepultado por José Joaquim Seabra na avenida que leva o nome deste ex-governador. Qual seria a última etapa da despoluição do Dique, dentro do Programa Bahia Azul do primeiro governo Paulo Souto? – precisamente, despoluir e revitalizar as águas que correm no vale da barroquinha…
Mas sabemos, nesse neo-carlismo fashion de Ivan, o terrível, Paulo Souto pode. Jaques Wagner, não pode.
Quando vão revitalizar o Rio das Tripas? Breve, espero! O micro-clima do centro atingo melhorará muito, e a população agradecerá. O Rio das Velhas passa no centro de Belo Horizonte, também está sepultado desde o século XIX, e deve passar por des-sepultamento em breve. Sob ordens do Governador Aécio Neves. Minas pode; Salvador, coitada, a capital vira-lata, não pode. Nada pode. Ponte não pode, bicicleta não pode.
Pode invejar Recife. Que tem a bela orla de rio na foto acima. Mas só invejar. Tentar se aproximar do modelo que faz de Recife a potencia que ela é? Não, isso não pode. Mas reclamar de que ninguém tenta fazer pela Bahia o que se faz com Pernambuco? – ah, isso Ivanzinho reclama…
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