De Acervos & Lacunas
Quinta-feira, estreou a exposição Coleção Desenbahia, no Museu de Arte da Bahia (MAB – Corredor da Vitória). Trata-se de expor no vetusto palácio do século XVII a coleção angariada em leilões pelo extinto Desenbanco – especialmente nos anos negros do carlismo.
Durante quase 20 anos, os museus bahianos não adquiriam obras. Situação que mudou um pouco quando, à frente do Arte Moderna (MAM – Solar do Unhão), Heitor Reis inaugurou os Salões da Bahia, cujos prêmios eram sempre de aquisições. Mas, com isso, adquiria-se apenas artistas novos e estreantes. Os clássicos, só os bancos estaduais adquiriam.
Bancos estaduais, isto é: o BANEB (doado pelo des-governador ultra-carlista César Borges – sempre aquele que espancava adolescentes em Campus Federal e grampeava ilegalmente pela Secretaria de Segurança Pública – ao Bradesco em forma de privatização) e o Desenbanco (mais tarde corretamente reduzido a categoria de “agência de fomento”). A coleção BANEB se estilhaçou ao finalizar-se a patranha: parte foi pro Bradesco, parte pro Conjunto Cultural da Caixa de Salvador, parte pro MAM-BA, e outra parte sabe deus pra onde (eu presumo que esteja entre o quinto e o sétimo andar do Edifício Stela Maris, no Largo da Graça – mas isto é apenas educated guess).
Pela primeira vez MAM e MAB trabalham alinhados. Junte-se esta esclarecedora exposição de acervo ao time-line do Solar do Unhão, e está posta politicamente às claras como era a “política” (?) de museus até agora. E como ela é hoje: porque, apesar de ter patinado por dois anos (e apesar das sandices de Solange Farkas), habemus política de museus em marcha. E, em breve, política de aquisição sistemática de obras. Antes que taxem de esquerdismo: igualzinho a Sampa de Mário Covas tem desde os anos 1990…
Vale também ressaltar que Salvador abriga, num só verão, quatro importantes exposições: o Benin, pré-inaugurando o MUNCAB (Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira), a retrospectiva Coleção MAM-BA, a Coleção Desenbahia, e o Rodin.
Quatro grandes exposições de artes visuais! Quantas capitais brasileiras fazem isso num só verão? Nenhuma! – nem mesmo o Rio de Janeiro.
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Pano Rápido: Há quem esteja dizendo que o Caderno Especial de Bravo! sobre a Bahia foi matéria paga pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Não creio, mas vá lá, a suposição não é esdrúxula. E se for? Está errado?
A matéria dá amplo espaço a detratores do Secretário Marcio Meirelles, como a boiadeira da mediocridade Aninha Franco, Geraldo Mumia Maia, o eterno impublicável, Claudius Portugal, e outros.
Mais: com uma mídia que é incapaz de divulgar qualquer coisa que não seja o axezão moribundo (mesmo quando Salvador tem a melhor sinfonica jovem das Américas, o Neojibá, uma das mais importantes big-bands de jazz do mundo, a Orkestra Rumpilezz, e o melhor disco de rock do país em décadas, o ChaChaCha do Retrofoguetes), é mais do que legítimo – é uma obrigação cívica nacional que a SECULT-BA pague uma tal matéria na Bravo! Mais: a Globo nacional é incapaz de fazer uma matéria sobre o Praia 24h – evento que ocorre na melhor praia urbana do planeta, e que se fosse no Rio de Janeiro daria bloco inteiro no Fantástico.
Nacional porque o país precisa saber (já que o Prefeito da capital não vê, e a mídia gorda esconde) a verdaderia revolução cultura por que passa a Bahia e Salvador. E que passa apesar da SECULT, e não apenas por causa dela. É mandatório que isso seja divulgado por qualquer meio que seja. Recife e Pernambuco, em pleno MangueBeat, não fizeram diferente. E estavam certíssimos!
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