O Pós-Axezismo decolou!
A Revista Bravo! foi, até 2003, a mais importante revista de crítica de arte do país em décadas. Crítica politizada, da direita até a esquerda. Era da Editora D`Ávila. Aí a editora (primeiro de) Abril (de 1964) comprou. Aquela que publica o tablóide de parajornalismo (no sentido de milícia paramilitar) de ficção fantástica, a Veja.
Acontece que a Bravo! deste mês tem um caderno só sobre a Bahia atual e sua retomada cultural. A que chama, como nós, de Pós-Axezismo. E, politizada, atribui esta retomada ao fim do Carlismo. Um caderno destacável de 100 páginas – ou seja, quase do tamanho da revista.
E estão lá o Neojibá e a Orkestra Rumpilezz; o Retrofoguetes, o Bahiana Sistem; o Theatro Vila Velha e Aninha Franco, igualmente; Vladimir Cazé, também leitor deste brega metido a palacete que eu mantenho, e Rónei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta. Mariene de Castro (e os blocos de samba do Carnaval do Campo Grande/Avenida) e o financiamento estatal do Carnaval Ouro Negro. O Núcleo TCA de Teatro e o Dimenti. Estão lá até os exilados da Formidável Família Musical e os ainda sem myspace Clube da Malandragem.
Falta gente? Falta. Falta o Circuito SalaDeArte, falta o Baile Esquema Novo, e as bandas O Círculo e Cascadura, e principalmente a que salvou o Brasil da praga dos emos, a Vivendo do Ócio; e a OSBA, e o Samba das Moças. Mas estes estão lá nas entrelinhas: não dá pra falar do Neojibá sem entrever a Sinfônica do Estado renovada como é hoje, nem falar de cinema em Salvador sem falar do pioneirismo da galera que um dia, dez anos atrás, abriu uma sala no Clube Bahiano de Tênis que todo mundo disse que ia falir – e hoje são 5 salas. E mesmo Pedro Alexandre Sanches comete o erro paulista de confundir o pagodão, legítimo herdeiro do samba-duro, do Gerassamba e do Parangolé, com o axé-music nefasto e devastador – quando sabemos que o pagodão foi tão vítima do axé-sistem quanto os outros ritmos. Falta o Restaurante Dona Mariquita, o finado Bar Marquês e a Boate Boomerangue. Mas, até isso se perdoa…
Me enxeu de orgulho. Até porque forçou a retomada da velha qualidade editorial da Bravo! – mais ou menos como Salvador causou a Terra Magazine, quando ela passou a ter aqui seu epicentro.
Junte-se a isso o fato de a gestão atual do Centro Antigo de Salvador ter sido premiada pela Caixa Econômica Federal como um dos 20 trabalhos sociais mais relevantes do país – e ir concorrer a prêmio internacional similar, em Dubai. Nem a TV Bahia, a Globo de ACM, diz mais que o Pelourinho tá abandonado. Apenas Mario Kertsz segue na sua perseguição personalista acusando Secretario de Cultura do Estado, Marcio Meirelles, de ter uma “Lista Negra” (e Samuel Celestino migra pra sub-informação e dá guarida a isso). Que “Lista Negra” é esta que não impede o Theatro XVIII de Aninha Franco de reabrir usando dinheiro do Fundo de Cultura do Estado? Se nem ela, que aboiou a mediocridade, está na “Lista Negra”, quem estaria?
E mais: se algum habitante da Pituba vier dizer que Salvador não tem vida cultural, ou tem mas é mal-divulgada, é porque merecem mesmo passar a eternidade num playground do Imbuí ouvindo Claudia Leite ad nauseam.
Em tempo: tendo em vista que o Baile Esquema Novo é a sala-de-estar do Pós-Axé, quero ver todo mundo na Boomerangue este sábado – de fazer aquela fila de dar volta até a esquina do Extudo, a capital do Red River. Pra tomar aquele porre que não se toma desde que Jaques Wagner se elegeu de lavada, matando em vida Dom Corleone. Aliás: Geddel vai enfrentar um cara que até a Editora Abril elogia?! Será que ele se contaminou da epilepsia de João Henrique…?
Pingback: Reforma ou Revolução? | As idiossincrasias de Oliver