Hortas Urbanas
“(…)Lajes de prédios? Corredores? Quintal cimentado? Pátios de escolas? De hospitais? De fábricas? Nada disso é impeditivo para formar hortas – e hortas orgânicas. Bastam 4 horas de sol direto por dia e alguns cuidados. (…)
O projeto que agrônomo Marcos Victorino cunhou como Plantando na Cidade é mais que uma idéia curiosa e midiaticamente chamativa. Remete a questões como a necessidade de se reinventar formas de produção e consumo da sociedade urbana e de reorganizar o próprio espaço. A começar pelos exemplos mais simples.
Falar em hortas urbanas é falar de combate a ilhas de calor, maior qualidade de vida em centros urbanos, menor emissão de carbono, alimentação saudável, educação ambiental, e reconexão das pessoas com o que têm de mais elementar: a terra, e o alimento que sai dela para a boca.
Ao se promover a produção local do que se consome, menos caminhões cuspindo enxofre e monóxido de carbono e entupindo ruas e estradas precisam transitar da cidade ao cinturão verde e vice-versa. Isso sem falar que os cinturões cada vez mais se apartam das grandes cidades em expansão – distância que também encarece o produto e aumenta o índice de desperdício no trajeto.
Nas escolas, as hortas são aulas práticas de educação ambiental, de entendimento dos ciclos da natureza e dos alimentos. “Além disso, ensinam as crianças a gostar de hortaliças . Quando a criança planta sua horta, ela quer comer verdura”.
E a poluição atmosférica, garante ele, não faz das hortaliças menos saudáveis. “A verdura que vem para a cidade com agrotóxico, essa sim é prejudicial”, diz.
Na laje da Faculdade Cantareira, onde Victorino desenvolve o piloto das hortas urbanas, o sol bate impiedoso no inverno paulistano em plena era de aquecimento global. “Antes ninguém conseguia ficar aqui em cima muito tempo. Agora, boa parte do calor é absorvida pelos canteiros”.
Feitos sobre telhas de fibrocimento, suspensos por blocos de concreto, já atraem cerca de 300 insetos, em um equilíbrio entre pragas e predadores, registrou o agrônomo.
A adubação é orgânica e o fato de não haver contato com o solo contribui para o controle de pragas sem pesticidas. Victorino tem usado terra de baixa qualidade para mostrar que o cultivo é viável mesmo para quem não tem acesso a um solo mais rico.
E para quem também não tem tempo de irrigar a horta durante o dia, Victorino inventou um sistema automático e barato, composto por uma mangueira, um relê de máquina de lavar roupa de R$ 8 e um timer de R$ 25.
A mais nova idéia que anda rondando a cabeça de Victorino é criar canteiros sobre rodinhas, para que as pessoas que moram em apartamentos, por exemplo, possam levá-las para tomar sol. Para a terceira idade, é uma ótima forma de ocupação, acredita. Faz com que os idosos também se exponham ao sol – o que é importante especialmente nessa fase da vida – troquem conhecimentos sobre as plantas e técnicas de cultivo, e se alimentem de forma mais nutritiva.”
Comentário:
Tenho estado bastante interessado nisso, ao ponto de que pela primeira vez na vida irei a uma reunião de condomínio pra ver se alguém faz melhor uso do terraço do edifício em moro do que ser via de acesso para amassos juvenis, pegações e quejandos (o último lance de escadas, ligando o último andar ao terraço – sempre trancado – é ermo o suficiente para tais utilidades…).
O melhor é que horta urbana se concilia bem com coleta seletiva: o material orgânico não precisa ser entregue a coleta pública de lixo. Pode ser juntado em caixas tapadas e furadas, com (ou sem) minhocas, para virar adubo – que serviria a principio para alimentar a horta, depois os jardins (já existentes), depois as plantações ornamentais individuais dos apartamentos de cada morador, depois os arrabaldes públicos e os vizinhos de outros prédios. Em última instância, pode ser vendido a hortos, gerando uma renda mínima ao condomínio que se não abate significativamente nas parcelas de contribuição dos condominos, pode ser uma fonte de gratificação aos funcionários (o que serve, embora suavemente, para uma retificação social).
E a água pra molhar a horta pode ser o que sobra da água da lavagem dos carros, por exemplo: basta acabar com o costume de jogar a baldada em cima dos malditos, depois de ja terem sido esfregados com flanela.
Um dos funcionários do meu prédio com que conversei disse que seria inviável, desde que o terraço é coberto por telha e faria sombra. Ora, isso é uma vantagem: evitaria os seis meses de sol escaldante da Capital Barroca, expondo os vegetais apenas ao sol do início da manhã e do fim da tarde.
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