Claríssima OSBA!, no Desterro
Pela primeira vez a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) executa uma edição da série Mozart nas Igrejas dentro de um claustro feminino em funcionamento: o Convento da Ordem Segunda de São Francisco (Irmãs Clarissas) de Salvador – ou simplesmente: Santa Clara do Desterro.
A aproximação já está ocorrendo desde que, meses atrás, se optou pelo antigo convento da Ordem Segunda de São Bento – ou Santa Teresa de Ávila, atual Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia.
Se nas antigas Teresinas predomina aquele estilo de abadia renascentista sóbria, é nos franciscanos que encontramos o barroco, ora maneirista, ora opulento, que é a cara de Salvador. Não o barroco da ilusão lógica dos jesuitas – mas das cariátides nuas, anjos com pênis e plumagem de araras, no dizer de Pietro Maria Bardi.
É verdade que isto só fica explícito no interior da Ordem Primeira de São Francisco, maior talha dourada do planeta (e, diga-se de passagem, também maior conjunto de azulejaria portuguesa do mundo); e na fachada hispânica da Ordem Terceira, ao lado. As Ordens Segundas são usualmente mais discretas, com igrejas menores e menos ornadas. O que levará a OSBA inevitavelmente a um concerto mais intimista, em formato de câmara, onde prevalece a interpretação de suas cordas historicamente líricas. E significa também que quem não chegar pelo menos meia hora antes, não acha lugar. É amanhã, dia 21 de outubro, às 20h.
Salvador é a única cidade do país a ter os três níveis de ordens para pelo menos três ordens – Beneditinos, Carmelitas e Franciscanos – seguindo sempre a mesma lógica: a Ordem Primeira, ao lado da Terceira, lacra a Cidade Velha; a Ordem Segunda, de mulheres, fica na segunda cadeira de morros, em Nazaré, protegidas. Recife só tem ordens primeiras; Minas Gerais, apenas ordens terceiras; Olinda, segundas. Rio de Janeiro basicamente Igrejas Cívicas, da Santa Sé ou do Braço Secular – a exceção do Convento de Santo Antônio, também franciscano, que tem o legendário Cristo Seráfico.
O rumo que a Série Mozart toma indica que ano que vem provavelmente se começará a ocupar as Igrejas de médio porte, do relegado mas genial período de talha neoclássica bahiana. Ligadas a região da Cidade Baixa e do Pilar, estão em fase conclusiva de restauração as deslumbrantes Nossa Senhora do Boqueirão (no Ponto dos 15 Mistérios), e Nossa Senhora do Pilar (Santa Luzia). Amém!
Aliás, vale lembrar que a série começou exatamente num convento jerônimo da Cidade Baixa: a Casa Pia dos Órfãos de São Joaquim, há quase dois anos atrás.