O Som das Sextas – III
Hoje, esse é um post de luto – é uma sexta-feira em que na Bahia não se veste branco. Morreu o argentino mais bahiano do mundo, desde Carybé: Ramiro Musoto.
Como se sabe, a Bahia não é um lugar geográfico – é um estado de espírito, um topos lógico (sem trocadilhos). Com isso, os franceses Pierre Verger e Roger Bastide, do Alto do Corrupio, podem ser mais bahianos do que toda a população da Pituba, junta. Emílio Rodrigué, argentino também tão bahiano, morador apaixonado de Ondina, pode fazer uma biografia de Freud (segundo o Le Monde, a melhor do mundo até agora) que tem no prefácio a lenda de Oxóssi e o Pássaro Rocca; pôde desenvolver uma psicanálise que até em sua metodologia cheira a dendê, acaçá e efó. “A Europa quer ser atéia porque não conhece o Candomblé”, dizia.
Vinicius de Moraes, diplomata carioca de nascença, fez-se bahiano de Itapoã, quase como um filho pródigo de Dorival Caimmy, voltando a casa.
Ramiro Musoto estava entre estes. Talvez o último dessa tradição de “Bahia, berço do mundo” – talvez o primeiro de uma nova tradição.
O Som das Sextas que hoje não traz canções. Traz a música, tão pós-africana, lusa-americana, deste portenho – a quem os eguns levaram cedo demais.
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