A greve que não houve
Ontem a mídia bahiana passou o dia a anunciar uma “greve da Polícia Militar”, para o início da noite – greve constantemente negada pela própria PM, que insistia ser um movimento entitulado “Polícia Legal”, que dizia saber que Militares não podem fazer greve, e que seria portanto apenas uma operação padrão.
Quem melhor informou sobre isso ontem foi o Blog do Rio Vermelho – que merece, por isso, louros de imparcialidade.
A questão que fica é: o Governador afirma que não tolerará motim, que por outro lado está negociando, e que entende a legitimidade de uma operação padrão (em mais um discurso, diga-se de passagem, que deveria ser modelo de civismo para o resto do país); o alto comando da PM diz o mesmo, e garante que se necessário for a Força Nacional de Segurança já está avisada; a Polícia Civil diz que, diferentemente de 2001 (no Governo César Borges), está bem equipada e pode dar conta de parte da segurança do estado, se necessário for, e que nem pensa em aderir a uma suposta greve.
Mas, a mídia, continua disseminando pânico. Note-se que mesmo um geddelista como Samuel Celestino informou corretamente que haveria necas de greve.
O Deputado Estadual Capitão Tadeu (PSB), membro da corporação e seu representante legislativo mais dileto, disse o mesmo.
A quem interessa, então, disseminar o pânico? À mídia, carlista, é evidente – e também ao Prefeito João Henrique Carneiro (PMBD).
E o que está em jogo no atual movimento da PM Bahiana? Tenho algumas hipóteses:
- Acabamos de sair de um regime militar – que previlegiava o exército estadual, que é a PM, e desmantelava a polícia investigativa, que é a Civil, já que o carlismo não tinha interesse de que se investigasse nada. É natural portanto que as forças militares sintam perdas e reinvindiquem – não obstante serem a categoria que mais aumentos teve nos últimos três anos: 19% ao todo. Apenas o deste ano foi menor;
- A Polícia Civil, recém-reequipada, tem cumprido função similar a da Polícia Federal no primeiro Governo Lula, com ações de inteligência orgânicas e eficazes. Isto cuminou na Operação Nêmesis, que atingiu a Polícia Militar no fígado. De lá prá cá há rivalidades entre as duas forças. Note-se como o movimento de agora é logo depois do episódio em que um PM baleou um perito (não policial, portanto) da Civil;
- No que a direita vê um problema – esta crise inter-institucional policial – vejo uma vantagem. As contradições estão expostas, e isso é sinal de reajuste das funções e atividades das duas polícias. Que teve bons resultados como a melhoria dos números de violência do Carnaval. A situação é similar a dos Operadores de Tráfego Aéreo em 2007 – só que Wagner não é um indeciso como Waldyr, nem um pusilânime feito Lula.
E é preciso levar em consideração algumas situações díspares a de 2001, no des-governo César Borges:
- A greve da PM em 2001 veio numa sequência de desastres na Secretaria de Segurança Pública, que incluia escândalo de grampos telefônicos ilegais, um enfraquecimento da Polícia Civil (com a total inexistência de concursos públicos inclusive, enquanto estes eram rotineiros para a PM), e com o espancamento de estudantes no Campus da Graça, da Universidade Federal da Bahia, o que levou ao então reitor, Heonir Pereira de Jesus Rocha, PFL histórico e amigo íntimo de ACM, a romper com o próprio em nome da instituição UFBA;
- César Borges era um governador que nem sabia negociar, nem sabia ter pulso. Diferente e muito de um Wagner, que fala firme e negocia; ou de um Paulo Souto, ídem embora em menor escala;
- O custo do Governo César Borges foi alto também para a PM. De lá pra cá, a instituição tem recuperado sua reputação junto a população. Um movimento ilegal, agora, seria jogar estas conquistas por água abaixo – sem, necessariamente, aumentar a rejeição ao governo atual. Eis algo que a PM claramente não quer fazer – tanto que entitula seu manifesto de “Polícia Legal”. No que – embora isso em nada pese – tem apoio deste blog;
- O jóvem oficialato da PM dos últimos dois concursos são jóvens universitários, em geral anti-carlistas e razoavelmente cultos. Diferente dos concurso anteriores (e isso é mérito de Paulo Souto – importante é que se diga). O alto oficialato carlista ruiu com a Nêmesis. Portanto, a PM atual é mais reflexiva e crítica, e menos aventureira.
Eis minha contribuição para amenizar mais este pânico midiático. Já basta o falatório mórbido sobre uma epidemia que não existe, a dita “Gripe Suína” (que na Bahia já tem ganhado o apelido de “Tô com Geddel”: por causa de seu cognome escolar, Suíno, e porque é algo que todo mundo diz que tem – mas na hora H, era só resfriado mesmo).