Mea culpa – I
para Marcus Sá
Alguns leitores reclamaram, por ocasião do início das “comemorações” de um ano deste blog, de que eu estava menos “genial” e mais “arrogante” – o que muito me admirou e consternou.
O consternamento é que, por um lado, nunca me considerei mais do que correto, com alguns momentos brilhantes (no sentido de ter bons insights) – e com uma sorte danada, de nascença; e que, por outro lado, sempre achei que estivesse claro um certo grau de pedantismo meu, desde o título deste espaço, em clara referência a personagens aristocráticos de Marcel Proust.
Há, evidentemente, uma distinção entre pedantismo e arrogância. Que eu sou pedante (e no dizer do poeta capixaba Gabriel Menotti Gonring, é melhor ser pedante do que ser didático), assumo; arrogante é tudo que, por outro lado, evito ser. Como disse acima: sei que todo saber vem do Outro – somos no máximo a via, o cavalo-de-egun pelo qual se manifesta.
Não obstante, concordo que a reprimenda pública a um comentário grosseiro aqui postado foi excessiva – em métodos e intensidade, mas não em causa ou em princípios. Eu próprio, desde então, não estava confortável com o modo com que eu agi.
Não obstante, insisto que parte da tarefa de manter um blog passa por exercer uma certa pedagogia democrática, pela pedra (pedagogia de mão-dupla, e que, neste momento por exemplo, são os leitores que a exercem sobre mim). Eu mesmo já fui alvo dela, por exemplo, no blog do Luís Nassif – com muito mais brandura, é verdade, mas por muito menos motivos. É, como disse, o preço do exercício da liberdade: de quem escreve e de quem lê, de quem mantém e de quem comenta, já que somos todos prossumers, nesta Era Digital.
O que posso dizer é que ficarei atento, e mais parcimonioso. E que aceito de bom grado estas e outras críticas que surjam. Blogs são sempre work-in-progress, com direito a erros e retificações de parte a parte. Blogs não se fazem escrevendo, mas re-escrevendo.
De resto, a espontaneidade minha continuará sempre. Desde que só mantenho esse troço aqui porque me dá enorme prazer. E um prazer que não é exatamente narcísico, visto que a internet colaborativa é fundamentalmente generosa – não no sentido da caridade, mas no sentido da dádiva de Marcel Mauss.
E este diálogo (que travo agora, por exemplo, reconhecendo um erro meu a partir de uma crítica contundente de leitores a mim) tem me ensinado a, subjetivamente, ser mais dadivoso. E creio não ser eu o único a (re-)aprendê-lo. A internet talvez seja, sobretudo, uma tecnologia-do-eu.
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