O hímen complascente do PMDB

15/07/2009 at 12:54

Duas entrevistas no Terra Magazine de ontem, do excelente Bob Fernandes. Uma, com o Governador Jaques Wagner:

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Como oposição na Bahia significa também o DEM, tal movimento implicaria, naturalmente, em ter um outro candidato à presidência da República que não o candidato do presidente Lula. O problema para Geddel é que o ex-governador Paulo Souto, do DEM, nome forte no estado, também já se anuncia candidato ao governo, contra Wagner. Donde, se tornada concreta a candidatura Souto, a tal união de oposições não se daria como imaginado pelo ministro.

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Terra Magazine – Governador, o que temos aí na Bahia? O PMDB do ministro Geddel, integrante da aliança que elegeu o senhor, rompeu com o seu governo?
Jaques Wagner –
Eu já disse e repito que ganha quem junta, quem agrega, reúne, e não quem separa. O que eu quero, o meu desejo, é continuar com a aliança de nove partidos que me elegeu e chegou comigo ao governo em 2006. E as várias conversas que tive com o ministro Geddel foram no sentido de manter o projeto, onde, naturalmente, ele iria para a senatoria, disputaria a vaga de senador dentro dessa aliança em 2010. Foi sempre esse o rumo da nossa conversa.

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Como tenho dito, essa sanha de Geddel por ser governador agora precisa passar por dois obstáculos (além do ovo que João Henrique levou na cara na última Parada do Dois de Julho). Uma, é convencer Paulo Souto, o último dos grandes PFListas a ter chances reais em cargos majoritários no país, ex-governador duas vezes e ex-senator, admirado até por gente como eu da esquerda por ter iniciado a desconstrução do carlismo (inclusive enquanto método, que Geddel usa e Souto não) – convencer Paulo Souto a ser vice dele, Geddel, que na real não passa de um deputado federal com votação mediana.

A outra é que a segunda vaga pro Senado espera por ele. Com ela, votos PTistas lhe seriam úteis, e viriam – nem que fosse por tática de a Bahia não ter pela primeira vez nenhuma cadeira do PFL lá. Esta segunda vaga espera por ele – mas espera por Roberto Santos ou Lídice. Esta segunda vaga para ele são duas, porque pode ser ao Senado na chapa de Paulo Souto – mas não espera pra sempre também. O tempo está contra Geddel. Daí sua ânsia de se declarar candidato já.

Mas, sabemos desde Freud que a pressa é inimiga do tempo.

Outra entrevista com Lúcio Vieira Lima, formalmente presidente do PMDB bahiano:

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Então, a manchete é?
Geddel é candidato ao governo, o governador que mantenha ou tire quem quiser e, muito importante, o PMDB vai ter aqui na Bahia o segundo palanque para Dilma Rousseff.

Por que os secretários indicados por você não pedem demissão, já que essa é uma das práxis?
Não vamos pedir demissão. Isso é uma questão interna do partido, o governador que tome a atitude que bem entender. Nós vamos nos limitar a ler o Diário Oficial.

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É isso: Geddel rompeu, mas não rompeu. Mas rompeu. Mas, não rompeu.

É uma espécie de hímen complacente da política. Ou lidar com Geddel é como fazer sexo: tá dentro, tá fora, tá dentro, tá fora. João Henrique tinha postura similar, e o Governador o chamou de confuso ano passado, e com razão. Como também já dissemos: Geddel crê ser capaz de contaminhar João Henrique com suas qualidades (assertividade e operacionalidade técnica), mas o que está havendo é o exato oposto: Geddel cada dia que passa está menos estratégico, e começa a colher para si a rejeição de João Henrique.

Piadas a parte, vamos a piada do próprio Lúcio: formalmente rompeu, mas não devolve cargos. Só se o governador pedir.

Assim, é fácil. É que nem no jardim-de-infância: “tô de mal com você, corta aqui! – mas você me empresta o lápis assim mesmo…?”.

Que eu não tenho simpatia por Geddel, todo mundo sabe. Mas sabia nele um articulador maquiavélico – sem escrúpulos, mas eficiente e com estilo.

Com essa, agora, cai pra posição de criança birrenta de pré-escola.

Ele quer romper com o Governador? Aja como homem e sacaneie! Retire de Wagner a dádiva que é ter Batista Neves na Secretaria de Infraestrutura – ao invés de dar a ele, Wagner, o direito de escolha sobre sofrer ou não o dolo de tal ruptura.

Se é pra brincar, Geddel, vamo brincar sério. Café-com-leite não vale, Suíno.

Por outro lado, isso pode ser sinal de que a tática de fazer ouvido mouco ao PMDB, enquanto lhe garante cargos, que o Governador tem usado, está dando certo: Geddel não tem coragem de ir além da bravata.