Um poema para o Maranhão

11/07/2009 at 22:16

Alguns Amos de Boi

para o maranhãense Catulo da Paixão Cearense

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Eu vi mestre Chagas, na Maioba

sustentar sua voz ocilante

como ronco de tambor, não-onça,

como de pandeirão, toque insistente;

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voz que por si se sustenta,

afiada, mas não como faca,

antes como matraca, em que

cada repique dura eternamente.

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Vi Humberto guarnecer seu batalhão,

no Maracanã, pesado, de voz incisiva;

como agulha, que fura o couro duro

furava ela a massa dos pandeiros,

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e no entanto, voz que incendeia

tambores e matracas

como se fora faísca

numa palhoça à luz do dia;

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Vi Chiador, joão de nome próprio

posto e bem posto, aboiar

não como aboio, nem como

sopro de corno, berrante,

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antes cantar chiado, como seu nome

do alto do Ribamar, nome de pássaro,

chiar qual maracá, que ele balança

no corropio dos caboclos de penacho.

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E vi, da Baixada, Cazumbás do Pindaré,

suas vozes anônimas, raquíticas,

voz de quem tem frio, não o frio do frio,

mas o frio do calor, da chuva úmida,

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voz pequena, que pinta

a natureza bruta, elementar

voz que deixa o cantador se sustentar

como pintor pendurado no pincél.

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De Zabumba, e Costa-Mão,

vozes muitas, vozes coletivas

mesmo quando um só aboia

voz guarnecida de mais vozes, inauditas

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de zabumbas em cânone, sincopadas

desencontradas, como samba em movimento,

samba-mínimo, grano-duro, samba lento,

vozes que sambem mais do que cantar tentem.

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E vi do Axixá, do Munim a Imperatriz,

voz empostada, bem falada, pausada, recitada,

voz de político em constituinte,

honesta, ainda que desconfiada

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voz aberta, macia, sala cheia

da ausência de uma festa que se foi,

macia não como sobre-cama,

antes como dentro da almofada

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de plumas, coloridas, ela é chapada

de uma só cor, nesta orquestra de cores

brilhantes coloridas, onde tudo reluzeia