O Segredo Brasileiro: meu tesouro, meu torrão
É o primeiro vôo cujo pouso aplaudo, e vejo ser aplaudido, em décadas – esse de Fortaleza a São Luís, ontem. Não que o pouso fosse esplêndido – cagado, como só a Varig não fazia.
Mas, assim que a fronteira maranhãense foi cruzada, o piloto faz vôo panorâmico sobre os lençois. E explica detalhes de cada cidadezinha de entrada nele.
Nisso, os que não são maranhãenses de primeira viagem começam a entoar baixinho no avião, mas audivel, Toada Para O Meu Torrão, de Humberto Maracanã, do bumba-boi de mesmo nome (Sotaque de Matraca):
“Na Praia dos Lençois tem um touro encantado e o reinado do Rei SebastiãoNo mês de junho tem o bumba-meu-boi que é festejado em louvor a São João o amo canta e balança o maracá a matraca e o pandeiro é quem faz tremer o chão”
Choro.
Pousa, e é aquele céu anil, Anil como o rio que divide a Ilha Encantada no meio. Anil, como nem Brasília sabe ter. E aquele calor de útero, que não cessa. E aquela luz ateniense como a de Salvador.
Inevitável pensar: é muito bom estar em casa de novo.
Em casa, porque São Luís é a maior e mais distante cidade do Recôncavo Bahiano: nem o sotaque difere. É a irmã-caçula de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, de Cachoeira, de Santo Amaro. Dois mil quilômetros não são suficientes para não fazê-la a cidade mais parecida com Salvador em tudo. Até caruru, com nome de cariru, eles têm: sem dendê, e sem malícia, claro.
E penso: por que o Maranhão é tão mal-divulgado, culturalmente – ele que nada deve a Pernambuco e Bahia?!
Depois digo: deixa prá lá. Como diz uma propaganda do governo: é um “segredo do Brasil”. Feliz do brasileiro que o descobrir…
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