Pior do que eu pensava
O tal cartaz comemorativo dos 460 anos desta Capital Barroca é pior do que eu supunha. A frase que contém é: “Salvador: uma cidade de braços abertos para o futuro!” – aliado a cara de pânico de Antonio Frederico de Castro e Alves, o maior poeta da língua portuguesa no interregno entre Bocage e Quental, inclusive sob o aspecto do rigor formal.
De que o Poeta da Liberdade teria medo? A impressão que dá não é (apenas) de que Castro (enquanto simbolo da cidade que se ergue com João Henrique) empurra o povo pra longe; mas, paradoxalmente, como a cidade (que João Henrique destrói) que tenta não ser caustrofobizada pela especulação imobiliária.
Não é pra menos: o objetivo de vida do Bastião do Retrocesso é cegar a maior e mais limpa baía do hemisfério sul – aquela que a estátua do poeta (feita por ninguém menos que Paschale de Chirico) aponta, oferece, como um banquete aos olhos de todos que passam.
Na Praça Castro Alves mesmo corre a boca miúda que João Mamão teve a idéia azinina de fazer um “Teatro Municipal”, com projeto de Niemeyer (medo! – este blogueiro considera Niemeyer, enquanto arquiteto, o pior arquiteto do mundo; e Lucio Costa, enquanto urbanista, o pior urbanista do mundo: basta ver o desastre que é Brasilia e a Barra da Tijuca, em comparação com a área do Plano Agache-Reidi no Rio de Janeiro. Não obstante, Lucio como arquiteto é ótimo). Por sorte nem o velho comunista centenário soube disso formalmente.
Pra que João Henrique quer um “Municipal”? Um Teatro Municipal, no Brasil, em capitais, significa uma Casa de Ópera. A maioria delas são municipais, mas nem todas. No Rio há duas: uma municipal (o Municipal mesmo) e outra federal (sede da Sinfônica Nacional). Em Sampa, duas: o Municipal, e a Julio Prestes (uma das melhores salas de concerto do planeta), estadual e sede da até meses atrás melhor sinfônica do planeta em muitas décadas, a OSESP.
Salvador já tem uma casa de óperas invejável para qualquer cidade do mundo: o Teatro Castro Alves. E o Município tem um teatro, aliás projetado por Lina Bo Bardi, aliás no alardeado Complexo Cultural da Barroquinha (que inaugurou, mas tá fechado), e que aliás a cidade usa pouco: o Gregório de Matos. Reza a lenda que João Henrique vai transformá-lo em pinacoteca municipal. Para-além de isso ser uma desutilização de um espaço projetado especificamente para artes cênicas, de onde ele vai tirar dinheiro para manter e comprar coleção pictórica?!
A última do Menino Mijão é ficar disputando tamanho de pau com Castro Alves, Antonio Baobino e Gregório de Matos. Evidentemente vai perder.