Sem medo de errar
Dizer que a Orquestra Dois de Julho é hoje a melhor sinfônica jovem da América Latina é pouco – a J2J é uma das melhores sinfônicas do país! Segura de si, é capaz de ir de Schubert a uma versão samba-duro de Ernesto Nazareth no bis, inclusive com parte da orquestra largando os instrumentos e indo sambar na frente do palco, mexer, descer e subir, b-a-ba-b-e-be-b-i-bi, quero ver as cadeira bulir.
Mesmo se comparada a mítica OSESP, de Neschling, ela tem qualidades. Dizem que a OSESP é a orquestra que mais tem medo de errar, no mundo – e de fato, genial, mas tensa. A J2J toca sem medo de errar. Eu estou falando de meninos de 16 anos de idade, ou menos, que até ano e meio atrás não sabiam que viola erudita não é violão de pagodão.
Ricardo Castro diz: “nossos meninos aprendem rápido porque aprendem coletivamente: é 10 vezes mais rápido do que o aprendizado solitário” (o que aliás é puro Vigotsky). E é lindo quando ele diz “nossos meninos”, quase como um paizão que diz: “nossos meninos ganharam o bába do fim de semana”, “nossos meninos tão retados!”.
Como a Sinfônica da Bahia melhorou tanto e tão rápido? – a resposta está no Neojibá. Os defeitos da OSBA eram metais desafinados, e naipe de cordas desencontrados entre si. Sumiram ambos! No Neojibá, estes defeitos estão lá nas Orquestras Pedagógias – e desaparecem na J2J, em que os metais brilham luminosos, e onde os arcos de violinos sobem e descem juntinhos, sincronicamente.
O que me lembra de dizer: o Neojibá (Núcleo de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) vai sair de casa. Cresceu rápido, a criança, e agora já não tem vaga pra todo mundo e não cabe mais no Teatro Castro Alves (TCA). Vai se mudar pro Barbalho, pro Teatro do ICEA.
O “sem medo de errar” da J2J não é acaso. Ele é a cara do Governo Wagner. Lembro de Lula dizendo, em 2003, que todo mundo podia errar menos ele – e suponho que isso tenha imprimido-lhe uma paralisia psíquica responsável pelo desastre dos primeiros três anos de governo (até que ele errou, e feio, e viu que podia errar, sim). E lembro de Roosevelt dizendo que o importante era experimentar; se não der certo, experimenta de novo – um governo se faz assim.
Wagner não tem medo de errar – arrisca, com cálculo, e quase sempre acerta. É de Oxaguian mesmo: ou seja, o Oxalá dele não é severo e velho como o de ACM – é jovial, ágil, guerreiro, e come com Oxossi, essa versão yorubá do arqueirismo zen.
O Neojibá criar asas me lembra que sua orquestra tem o mesmo nome que o Aeroporto de Salvador tinha, deveria ter e não tem (será que, em voltando o carlismo, vão mudar a J2J pra Orquestra Duquinho Magalhães?!). O Ministério Público Federal entrou com pedido pra voltar ao nome tradicional – mas, quem precisa disso quando se tem a Orquestra Jóvem Dois de Julho?!
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