Omelete de Presuntinho

10/07/2009 at 12:37

Do Bahia em Pauta, do excelente Victor Hugo Soares:

Já circula nas mãos de felizes proprietários, desde a manhã desta quarta-feira, 01/07, o modelo das camisetas com slogam provocativo e endereço político mais que direto, com a qual a turma do PMDB baiano ligada ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e ao prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, vai sair às ruas amanhã, quinta-feira, no desfile cívico ao 02 de Julho.

Na frente da vestimenta o símbolo cheio de estilo do PMDB, com sua tocha vermelha acesa, sustentada sobre listas em verde e amarelo associadas à bandeira nacional. Nas costas, a mensagem bem mais significativa do que simples letras estampadas numa malha, na qual o partido governista mais oposicionista do governo petista de Jaques Wagner tenta marcar as diferenças: “O TRABALHO NA BAHIA TEM NOME”.

Provocação clara ao Governador. Que reagiu como? Com nada. Com seu habilidoso silêncio, e sua paciência de enxadrista, hoje já lendária.

Efeitos, aqui:

Já aconteceram as primeiras batalhas desta manhã de quinta-feira, em Salvador, no desfile cívico do 2 de Julho. Ao chegar ao Panteão da Lapinha, onde ficam os carros do Cabocla e do Caboclo, para a cerimônia de hasteamento das bandeiras e toque dos hinos , o prefeito João Henrique Carneiro foi vaiado.

E não foi uma vaiazinha qualquer, destas que os administradores e políticos de todos os partidos estão aprendendo a tirar “de letra”

“Foi a maior vaia que o Largo da Lapinha já ouviu em um 2 de Julho”, segundo assinalou um observador de longas datas do festejo histórico.

Ao lado do prefeito, no momento dos apupos ensurdecedores (puxados principalmente por servidores municipais em greve por melhoria salarial e de condições de trabalho) , o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o presidente do PMDB, Lucio Vieira Lima, irmão do ministro.

Cada um, é claro, com ar de quem entoava baiaxinho a música da gaúcha Luka: “Tô nem aí!”

Até quando jogaram ovo no prefeito João Henrique, e todo mundo decidiu apressar o passo para a Praça da Sé.

No Dois de Julho vaia-se até minuto de silêncio. Ano passado eu abracei Grampinho (vulgo ACM, O Neto), dei beijo no rosto e disse que ia votar nele. Pura xibietagem.

Wagner também foi vaiado – e aplaudido. Paulo Souto aplaudido – e vaiado. César Borges com o silêncio de túmulo que cabe a um espancador de adolescentes.

Nada disso é problema, nem sinal de força ou fraqueza política. Mas ser vaiado o tempo inteiro, e ainda receber uma agressão física (ovo na cara), é incomum. Costuma ser uma festa pacífica. A última demonstração de agressão nela foi institucional, quando César, então governador, mandou a Polícia Militar bater no ex-governador Waldyr Pires e na prefeita Lídice da Mata, que protestavam pela volta do nome do Aeroporto de Salvador (que hoje se chama Duquinho Magalhães).

Em seis meses de governo reeleito, e João Henrique já bate recordes de rejeição. Desta vez nem o obrismo (no sentido evangélico) vai minorar isso. E Geddel ainda acha que pode ser Governador do Estado…

Conclusão: Wagner é o único político brasileiro que sabe lidar com o PMDB. Como diz Alon Feuerwerker, o PMDB é um partido de quadros e nem a direita nem a esquerda pode governar sem ele – mas os PMDBistas com quem a esquerda governa não são os mesmos com quem a direita governa (que o diga a diferença entre a megalomania de Geddel, e a eficiência discreta do vice-governador Edmundo Pereira).

Assim, deve-se dar total importância administrativa para o PMDB, e não apenas por ele ser faminto de cargos. Wagner faz isso com o excelente Secretário de Infraestrutura Batista Neves, que conclui obras antes do prazo e a menos custo do que previsto – coisa de quem é quadro de carreira.

Dar total importância administrativa – e nenhuma importância política. Fazer ouvido mouco como Wagner faz com Geddel. Deixar o PMDB cair em si, ou cair do cavalo.

Se Geddel cair em si, pode ficar com a segunda vaga de Senado, tanto à esquerda (a primeira é de Waldyr) ou a direita (a primeira é de Paulo Souto, que já disse que não quer mais governar a Bahia). Para isso, ele tem de ser breve. Se adiar, a segunda vaga pode cair no colo de Lídice. Ou de Roberto Santos (que pode sair com Souto ou com Waldyr, igualmente). Ou dos grandes políticos da Bahia que sumiram durante o carlismo, progressistas e que agora voltam a cena.

Pano Rápido: imperdível o discurso do Governador anteontem. Destaco o trecho em que ele diz que prepara a Bahia para um ciclo de desenvolvimento tão longo quanto o último, “que foi criado por Luíz Viana Filho e Rômulo Almeida, e não por quem vocês pensam” (como sempre, não fala o nome ou sigla ACM – sic).

Jaques Wagner é um retorno da história que ACM tentou apagar: a era conhecida como Avant-Gard bahiana, em que toda a cultura e política do país orbitava Salvador dos anos 50 aos 70. Não é demais lembrar que foi Rômulo Almeida o responsável pelo Plano de Metas do Governo Jucelino Kubitchek – e aliás, Jucelino teve a idéia ao conhecer Rômulo no Governo Régis Pacheco (ou seja, Baobino), enquanto governava Minas (qualquer semelhança invertida de Aécio & Wagner não é mera coincidência). Não é pouca coisa.